Domingo, 05 de maio de 2024

Entenda crise da agência antidoping três meses antes da Olimpíada de Paris

Irregularidades, incompetência, leniência para com a China. Há alguns dias, a Agência Mundial Antidopagem (Wada) está no epicentro de um escândalo que afeta a luta contra o doping, com a entidade sendo acusada de ter encoberto os testes positivos de 23 nadadores chineses em 2021. Este caso, uma “bomba de fragmentação” ativada três meses antes dos Jogos de Paris, poderá pôr em perigo todo o sistema e a arquitetura da luta global contra o doping, segundo diferentes fontes envolvidas nesta área.

Normalmente, quando um atleta testa positivo para uma substância proibida, ele é automaticamente sancionado, conforme a Wada impõe a todas as agências antidoping. Neste caso, a Agência Antidopagem Chinesa (Chinada) não suspendeu os 23 nadadores que no início de 2021 testaram positivo para trimetazidina, substância prescrita para pessoas com problemas cardíacos e que está incluída na lista de produtos dopantes desde 2014, já que melhora a circulação sanguínea.

No passado, atletas como o nadador chinês Sun Yang, tricampeão olímpico, e a jovem estrela russa da patinação Kamila Valieva, foram suspensos após testarem positivo para esta substância. Em coletiva de imprensa convocada nesta segunda-feira, a Wada tentou explicar o ocorrido: uma cláusula, quase nunca utilizada, permite que um atleta não seja automaticamente suspenso caso declare antecipadamente.

“Só que, neste caso, os nadadores envolvidos não puderam dar a sua versão, uma vez que as restrições da Covid-19 não o permitiam”, segundo fonte próxima do antidoping francês. Por que a Chinada não recebeu as suas declarações por videoconferência? Uma pergunta sem resposta por enquanto.

Suspeita

A forma como a Chinada apresentou a sua investigação “não está em conformidade com as regras normalmente impostas pela Wada”, segundo uma fonte judicial. Quando uma substância proibida é detectada no corpo de um atleta, é o atleta quem deve demonstrar possível contaminação e ausência de intenção de se dopar.

“O princípio aplicado é que com este tipo de substâncias existe a presunção de doping. Pode ser revogada, mas é o atleta quem deve fornecer os elementos”, acrescenta esta fonte judicial.

No caso dos nadadores chineses, a investigação foi levada a cabo pelo Ministério da Segurança Pública, ligado aos serviços secretos chineses, segundo a rede de televisão alemã ARD, que descobriu o caso no último sábado em conjunto com o The New York Times. Apenas mais tarde a Chinada transmitiu o relatório à Wada, em março de 2021, concluindo que se tratava de contaminação alimentar através da comida servida pelo hotel onde residiam os atletas.

“É bastante quixotesco, é como se um policial te parasse por excesso de velocidade e ao mesmo tempo vestisse sua toga para te defender”, resume outra fonte.

Validação do processo

É o elo que faltava nesta questão. “Ninguém entende por que a Wada não fez ou disse nada”, admite uma fonte. O papel da Wada, a polícia antidopagem mundial, consiste acima de tudo em controlar a legalidade dos processos da agência antidopagem. E ele tem a reputação de ser intransigente quando se trata de seguir as regras. “Quando um país se desvia um pouco da estrutura imposta pela Wada, normalmente recebe uma reprimenda”, acrescenta outra fonte ligada ao antidoping francês.

No caso chinês, “havia demasiadas irregularidades, zonas obscuras para deixar passar”, afirma esta fonte. A Wada tem a possibilidade de recorrer ao Tribunal Arbitral do Esporte (CAS) para recorrer de uma decisão de uma agência antidopagem, como aconteceu, por exemplo, no caso da patinadora russa Valieva. Mas não foi o caso.

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