Quinta-feira, 25 de abril de 2024

Entenda o que representa a eleição de Gilberto Gil para a Academia Brasileira de Letras

A Academia Brasileira de Letras (ABL) terá mais um representante da música popular entre seus quadros. O cantor, compositor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil foi eleito, nesta quinta-feira à tarde (11), para a cadeira nº 20 da casa, que foi do jornalista Murilo Melo Filho, morto em março de 2020.

O artista baiano, de 79 anos, superou o poeta Salgado Maranhão (7 votos) e o escritor Ricardo Daunt (nenhum voto). Ele se junta a outros acadêmicos de notável trajetória na MPB, como o filósofo Antonio Cicero e o poeta Geraldo Carneiro, ambos letristas.

Autor de canções clássicas como “Aquele Abraço” e “Domingo no Parque” e de álbuns revolucionários como “Refavela” e “Expresso 2222”, Gil é um dos nomes que ajudaram a mudar não apenas a música brasileira, como a cultura como um todo, a partir das inovações e transgressões do movimento tropicalista nos anos 1960. Em 1996, lançou o livro “Todas as letras”, uma reunião de suas composições, cumprindo assim o pré-requisito de ter pelo menos um título publicado para poder se candidatar à ABL.

Em 1988, Gil foi eleito vereador em Salvador. Seu mandato foi marcado pela defesa de causas ambientais, que continuam sendo prioridades na agenda do artista filiado ao Partido Verde. Como ministro da Cultura, entre 2002 e 2003, ele tentou mudar o “conceito de cultura no país”, como afirmou na época. Durante sua gestão, o orçamento para o setor aumentou de 0,2% para 0,5% do PIB. Na ABL, Gil poderá usar sua vivência como artista e gestor de políticas públicas para trabalhar pela difusão da cultura.

A eleição do cantor e compositor para a ABL representa também o ingresso de mais um negro na instituição, que até então contava apenas com o professor e pesquisador Domício Proença Filho.

“Tanto Gil quanto Salgado Maranhão situam-se significativamente no espaço de afirmação e de reprentatividade cultural do negro na realidade brasileira”, diz Proença Filho.

A questão da representatividade na ABL ganhou destaque nos últimos anos, especialmente após a campanha da escritora Conceição Evaristo em 2018. Mesmo sem se eleger, sua candidatura mobilizou o movimento negro, que passou a questionar a falta de diversidade no quadro da instituição.

Gil é indiscutivelmente um dos maiores artistas da História do país – e um dos mais reconhecidos fora dele. Sua lista de láureas internacionais incluem o sueco Polar Music Prize (considerado o “Nobel da Música Popular”), em 2005, e dois Grammys de álbum de world music, em 1999 e 2006.

Como um dos principais expoentes da Tropicália, o movimento cultural que trouxe inovações estéticas nos anos 1960, Gil mesclou tradições brasileiras com vanguardas estrangeiras. Durante a ditadura militar no país, o movimento foi atacado por progressistas e conservadores, mas logo se impôs como uma tradução ousada dos anseios de boa parte da sociedade. Preso pelos militares, acabou exilado em Londres entre 1970 e 1972.

No documentário “Refavela 40” (Gil), de Mini Kerti, Gil vê seu disco “Refavela” como uma profecia do que a MPB iria se tornar. Divisor de águas da música brasileira, o álbum de 1977 reflete diversas vivências do artista na época, como sua viagem à Nigéria naquele ano, os blocos afro da Bahia, os bailes da Black Rio e o reggae de Bob Marley. O último álbum de estúdio de Gil é “Ok ok ok”, de 2018, em que reuniu três filhos músicos (Bem na guitarra, José na bateria e percussão e Nara nos vocais) para celebrar a vida. Na época, ele acabara de sair de uma série de internações por problemas renais.

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