Sábado, 18 de maio de 2024

Entenda por que alguns produtos estão encalhados na China e nos Estados Unidos

Os armazéns na China e nos Estados Unidos estão repletos de televisores, geladeiras e sofás que não foram vendidos, um sinal compartilhado de recuperações diferentes da pandemia que podem anunciar uma pressão renovada nas cadeias de suprimentos globais e abalar a variedade de produtos nas lojas americanas.

As mercadorias estão se acumulando por diferentes razões em cada país. Nos EUA, os consumidores estão gastando mais em experiências pessoais, como refeições em restaurantes, do que com a acumulação de bens, como fizeram no ano passado, uma mudança que deixou os estoques do varejo em uma máxima histórica.

Já os estoques chineses estão aumentando como consequência da política de “tolerância zero contra a covid” do governo, que fez diminuir os gastos dos consumidores nos últimos meses, ao mesmo tempo que permitia a muitas fábricas continuar produzindo. Os estoques de produtos prontos para comercialização em abril equivaliam a mais de 21 dias de vendas pela primeira vez em pelo menos 12 anos, de acordo com a consultoria de pesquisa Capital Economics.

Vender todas essas pilhas de mercadorias determinará as taxas de crescimento nas duas maiores economias do mundo. Os descontos necessários para queimar os estoques dos armazéns nos dois lados do Pacífico podem proporcionar aos consumidores americanos algumas pechinchas no varejo, apesar de os economistas dizerem que qualquer economia com sopradores de folhas e laptops terá pouco efeito para reduzir a taxa de inflação de 8,6%.

A confusão com os estoques é o mais recente capítulo no desempenho intermitente da economia global desde 2020.

“Nós temos mesmo uma economia global com velocidades diferentes hoje”, disse Gregory Daco, economista-chefe da Ernst & Young. “Há uma incompatibilidade de timing e um descompasso de demanda entre as mercadorias disponíveis e as mercadorias vendidas.”

A economia chinesa quase parou nesta primavera durante um lockdown na capital comercial da China, Xangai, com seus 26 milhões de habitantes; enquanto os EUA se recuperavam de um primeiro trimestre desanimador, com consumidores se apressando para retomar seus estilos de vida de antes da pandemia.

Depois de mais de dois anos tendo dificuldades para conseguir produtos suficientes para o país, muitas empresas americanas, do nada, se viram com excesso de alguns itens e estoque insuficiente de outros. A incoerência entre os armazéns transbordando de mercadorias e as mudanças nos gostos dos consumidores reflete o desafio enfrentado por muitas empresas, conforme a economia muda de maneiras imprevisíveis.

A inquietação com o que vem pela frente fez o índice S&P 500, o indicador mais amplo do mercado de ações, entrar em território de mercado de baixa, caindo mais de 20% este ano.

Em abril, as importações dos EUA caíram US$ 13 bilhões em comparação com os níveis de março, o que significou menor demanda por espaço a bordo de navios porta-contêineres. Desde 1º de maio, o custo com o envio de um contêiner padrão da China para a costa oeste dos EUA caiu 37%, de acordo com o índice Freightos. Na sexta-feira (17), 20 navios de carga estavam esperando para atracar ao longo da costa sul da Califórnia, ante o recorde de 109 embarcações em janeiro.

Embora haja pouca chance de uma repetição dos enormes engarrafamentos do ano passado, a recente melhoria talvez seja passageira. A China flexibilizou seu lockdown em Xangai no início de junho, o que poderia provocar um “efeito de ketchup”, conforme o porto congestionado libera subitamente navios com destino aos EUA, de acordo com a Windward, empresa de dados da cadeia de suprimentos.

O porto de Los Angeles também está se preparando para uma temporada de pico de transporte de mercadorias mais cedo que o habitual, já que os varejistas dos EUA mudaram o ritmo para atender aos pedidos do período de volta às aulas e de férias levando em consideração os gostos dos consumidores em rápida mudança.

Os últimos lockdowns praticamente paralisaram grandes áreas da economia da China. Na prática, dezenas de milhões de consumidores chineses ficaram presos em casa e as empresas locais foram fechadas. No entanto, muitas fábricas continuaram funcionando ao obrigar os trabalhadores a permanecerem no local de trabalho 24 horas por dia, 7 dias por semana para diminuir os riscos de infecção.

À medida que a economia reabre, os consumidores chineses começarão a reduzir aos poucos as mercadorias acumuladas. Mas com a ameaça de novos lockdowns gerando dúvidas – Xangai e Pequim já receberam novas restrições – os gastos dos consumidores provavelmente continuarão fracos, disse Mark Williams, economista-chefe da Ásia para a Capital Economics.

Isso aumentará a oferta de bens de consumo disponíveis para os clientes dos EUA, colocando pressão sobre os preços dos produtos exportados.

“O principal impacto do enfraquecimento na China é que o país será uma considerável força desinflacionária para o resto do mundo”, disse Williams.

Um excesso de produtos fabricados fora do país talvez já esteja contribuindo para os preços mais baixos de alguns produtos nos EUA. A rede de lojas de departamentos Burlington, que importa de fornecedores chineses e de outros países, disse que a disponibilidade de mercadorias com preços menores melhorou bastante.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de em foco

Estados Unidos devem entrar em recessão até o fim do ano e desemprego vai subir, diz ex-diretor do Federal Reserve
Problema no controle de bagagens tumultua aeroporto de Londres
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play