Domingo, 06 de outubro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 18 de fevereiro de 2023
Entre os sonolentos passageiros de um voo noturno de Miami a Munique, no mês passado, dois viajantes estavam em lados opostos numa operação de combate à espionagem. Um era o cidadão alemão que seria preso assim que o avião pousasse e acusado de traição por ajudar a Rússia. Outro era um agente do FBI que havia embarcado para prendê-lo. Em 12 meses, Estados Unidos e União Europeia expulsaram 400 espiões russos.
A prisão de Arthur Eller, em 21 de janeiro, com base em evidências que o FBI havia reunido, foi o mais recente desdobramento de uma guerra clandestina contra os serviços de inteligência da Rússia.
No ano passado, americanos e europeus empreenderam uma campanha para minar as redes russas de espionagem. O caso alemão, que também envolveu a prisão de uma graduada autoridade do Serviço Federal de Inteligência (BND), seguiu-se ao desmantelamento de operações russas de espionagem em Holanda, Noruega, Suécia, Áustria, Polônia e Eslovênia.
As manobras foram golpes certeiros após a expulsão em massa de mais de 400 suspeitos de espionagem de embaixadas russas de todo o continente, no ano passado. A magnitude da campanha pegou a Rússia de surpresa, afirmaram as autoridades, prejudicando sua capacidade de realizar operações na Europa.
Se for mesmo assim, esse desdobramento poderá entrar para a lista de consequências que o presidente Vladimir Putin – ex-agente da KGB na Alemanha Oriental – fracassou em antecipar quando ordenou a invasão à Ucrânia. “O mundo é bastante diferente para os serviços russos agora”, afirmou Antti Pelttari, diretor do serviço de inteligência da Finlândia. Por causa das expulsões, de prisões e de um ambiente mais hostil, a capacidade russa foi reduzida.
A Rússia buscou compensar as perdas intensificando suas ações em ciberespionagem, afirmaram Pelttari e outras autoridades europeias. Moscou também tentou tirar vantagem das movimentações nas fronteiras e dos fluxos de refugiados para acionar novos espiões e repor os contingentes.
Mas esses recém-chegados trabalhariam sem a proteção e as vantagens oferecidas nas embaixadas russas. Em um possível sinal de desespero, Moscou tentou enviar espiões que foram expulsos de uma capital europeia para outra, investigando a existência de vulnerabilidades na coordenação entre os numerosos serviços de segurança do continente. “Não temos dúvida de que os russos continuarão tentando reconstituir redes na Europa”, afirmou uma autoridade de alto escalão de segurança ocidental que, como outras fontes ouvidas pela reportagem, falou sob condição de anonimato.
Segredos – O caso alemão expôs vulnerabilidades que persistem na Europa, mostrando que, mesmo em meio à operação de combate a espionagem iniciada após a invasão à Ucrânia, Moscou estava recebendo um fluxo constante de documentos secretos obtidos dentro de um dos maiores serviços de inteligência da Europa, o alemão BND.
Um mês antes de Eller, autoridades alemãs prenderam também Carsten Linke, de 52 anos, que era encarregado de uma unidade responsável pela segurança interna do BND com acesso aos arquivos pessoais dos funcionários da agência.
Anteriormente, ele havia passado anos trabalhando em uma grande instalação na Baviera responsável por operações técnicas de coleta mirando redes globais de informação.
A Alemanha só descobriu a inserção com ajuda de um serviço ocidental aliado. Em setembro, uma operação conjunta revelou que agências de inteligência russas havia obtido documentos secretos do BND, ocasionando uma caça ao espião que colocou Linke na mira rapidamente.