Quarta-feira, 24 de abril de 2024

Historiadores holandeses descartam que tabelião judeu tenha traído Anne Frank

Já se passaram quase 78 anos desde que nazistas descobriram, em 4 de agosto de 1944, o refúgio de Anne Frank, seus pais, sua irmã e mais quatro pessoas. Escondidos no anexo de uma casa margeando os canais de Amsterdã, eles foram deportados para os campos de extermínio – e apenas o pai, Otto, retornou. Anne e sua irmã, Margot, morreram em 1945 em Bergen-Belsen. A mãe, Edith, foi assassinada em Auschwitz.

Até então, sua trágica história é semelhante à dos quase 28 mil judeus holandeses que, segundo historiadores, esconderam-se na Holanda durante a ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial. Cerca de 12 mil deles foram encontrados pelos nazistas e sofreram um destino semelhante ao dos franceses e seus amigos.

O diário escrito pela adolescente, no entanto, tornou-se um dos símbolos mais reconhecidos do Holocausto, e seu nome é sinônimo de um caso nunca resolvido. Não há documentos sobre a busca em que a família foi detida, e circulam pelo menos 30 teorias sobre quem poderia tê-la delatado, se foi uma denúncia ou se foram encontrados no curso de uma operação relacionada ao mercado negro de alimentos.

Assinado pela escritora canadense Rosemary Sullivan, o livro “Quem traiu Anne Frank?” (ed. HarperCollins, ainda não lançado no Brasil) narra os seis anos de trabalho de uma investigação internacional que aponta um tabelião judeu – Arnold van den Bergh – como o possível traidor.

Seu nome aparece em uma nota anônima que Otto Frank recebeu após a guerra, e este estudo acredita que Van den Bergh fez isso para salvar sua família. O tabelião era membro do Conselho Judaico, organização que tinha listas dos que estavam escondidos e as colocava à disposição das forças de ocupação. No entanto, essas são conclusões que não convencem os historiadores holandeses especialistas nesse período.

Otto e Edith Frank emigraram em 1933 da Alemanha para a Holanda junto com suas duas filhas, Margot e Anne – de 7 e 4 anos, respectivamente – depois que Hitler chegou ao poder. Uma vez em Amsterdã, eles se estabeleceram em um novo bairro onde outras famílias judias viviam nas mesmas circunstâncias.

Na cidade holandesa, Otto Frank dirigia uma filial da Opekta, empresa europeia que vendia pectina de frutas para fazer geleia e estava sediada no número 263 da rua Prinsengracht. Quase uma década depois, o anexo dos fundos da casa serviu de esconderijo para a família e também para o casal formado por Hermann e Auguste van Pels, com seu filho, Peter. O dentista Fritz Pfeffer completou o grupo de oito perseguidos que se abrigaram juntos no coração da cidade.

A prisão

O Exército alemão invadiu a Holanda em 10 de maio de 1940, e o pai de Anne logo começou a se preparar para sua possível mudança para o anexo de 50 metros quadrados, o que ocorreria dois anos depois.

De acordo com Johannes Houwink ten Cate, especialista no estudo do Holocausto, Otto Frank “espalhou a notícia de que eles tinham ido para a Suíça e se enclausurou com toda a sua família em julho de 1942”.

“Foi um ato atípico, porque as crianças costumavam ser separadas dos pais porque assim tinham mais chances de sobreviver”, diz ele em conversa telefônica.

Os menores judeus eram transferidos para lugares distantes de suas casas com base em sua aparência. Assim, “um menino mais moreno passaria despercebido no Sul, e um menino mais louro no Norte do país, e Otto Frank arriscou-se a mantê-los todos juntos. Embora seja verdade que conseguiram se esconder por dois anos seguidos”.

Na manhã de 4 de agosto de 1944, policiais alemães e holandeses, sob o comando de Karl Silberbauer, agente austríaco das SS baseado em Amsterdã, descobriram os oito perseguidos. A Casa de Anne Frank, o museu atualmente aberto no mesmo prédio da rua Prinsengracht, aponta que não há documentos oficiais da prisão, mas tanto Otto Frank quanto cinco pessoas que os ajudaram a se esconder reconheceram em 1945 os dois agentes holandeses do grupo em algumas fotos.

Em sua biografia de Otto Frank, a autora Carol Ann Lee sugere que Tonny Ahlers, membro do Movimento Nacional Socialista Holandês (NSB), denunciou os esconderijos à polícia secreta alemã.

Segundo Houwink ten Cate, por outro lado, “não foi possível provar que Ahlers tinha conhecimento do anexo”.

“A mesma coisa acontece com Lena Hartog, esposa de um funcionário da empresa. Melissa Müller, biógrafa de Anne Frank, a apresenta como suspeita na acusação, e também não há provas”, diz.

O mesmo acontece com Ans van Dijk, uma judia que revelou o esconderijo de muitas vítimas depois de se esconder, e foi executada como colaboradora em 1948: “Uma coisa é o desejo de saber e outra de saber de verdade”, sustenta o estudioso holandês.

Ele admite o bom trabalho da equipe internacional em analisar e descartar cerca de 30 dessas teorias, incluindo a ligação de um informante policial recebido por Willy Lages, que era o chefe da polícia secreta alemã. Mas ele sustenta que eles estão errados ao destacar Arnold van den Bergh.

O novo livro se baseia numa nota anônima enviada a Otto Frank após a guerra que apontava o tabelião como responsável por ter revelado o esconderijo devido ao seu trabalho no Conselho Judaico de Amsterdã. Os nazistas compilaram um registro de todos os judeus holandeses, e os pesquisadores supõem que Van den Bergh teve acesso no Conselho às listas dos que estavam escondidos.

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