Terça-feira, 17 de junho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 15 de março de 2023
A revelação de que a Agência Brasileira de Informação (Abin) usou um programa secreto para monitorar a localização de qualquer pessoa por meio do telefone celular, nos três primeiros anos da presidência de Jair Bolsonaro, fez com que o governo Lula prometesse investigar e punir os responsáveis pela espionagem, além de reformular toda a agência.
A iniciativa, porém, pode não ser suficiente para que a Abin deixe de ser um foco de preocupação – agora para o próprio Lula. O novo comando escolhido para a agência não foi bem recebido não só por uma ala da própria Abin como em outros setores do governo, como a Polícia Federal.
A indicação do delegado Luiz Fernando Corrêa para ser chefe da Abin já havia desagradado o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues. Corrêa ainda precisa ser sabatinado pelo Senado e por isso ainda não assumiu o cargo.
Moretti
Quem já assumiu o posto, mas está sendo atacado nos bastidores por aliados de Lula, é o diretor-adjunto já escolhido por Corrêa, o delegado Alessandro Moretti, nomeado no início de março.
Ex-chefe da Diretoria de Inteligência Policial (DIP) da PF durante o governo Bolsonaro, Moretti também foi adjunto de Anderson Torres na secretaria de Segurança do Distrito Federal. Tudo isso é público e não impediu que Moretti fosse indicado para o cargo na Abin.
O que chama a atenção num governo em que até mesmo uma curtida em rede social ou foto antiga com Bolsonaro é suficiente para justificar o veto em alguém. Na Casa Civil, o que se diz a respeito do tiroteio interno é que não haverá nenhum problema em rever a nomeação do diretor-adjunto, caso fique provado que ele tomou alguma providência para favorecer Bolsonaro.
Operação Fênix
É nesse contexto que surgiu uma nova arma na guerra de bastidores pelo controle da Abin dentro do governo. Trata-se de uma operação que não aconteceu, mas que estava prevista no bojo do inquérito sobre a facada de Adélio Bispo em Jair Bolsonaro durante as eleições de 2018.
Batizada internamente de “operação Fênix”, ela foi pedida à Justiça pela Polícia Federal entre o primeiro e o segundo turno da eleição de 2022. O objetivo era realizar busca e apreensão sobre advogados da maior facção criminosa do país, o PCC, que também eram advogados de Adélio Bispo, com o propósito de tentar encontrar os supostos financiadores do atentado a Bolsonaro. Havia ainda pedidos de prisão.
Em 2022, o inquérito foi retomado a pedido do Ministério Público, que pediu a quebra dos sigilos dos celulares dos advogados de Adélio. O diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, então determinou que a investigação ficasse na diretoria de Moretti, sob o comando do delegado Martin Bottaro Purper.
No pedido enviado pela Polícia Federal ao juiz Bruno Savino, da 3ª Vara Federal de Juiz de Fora, o motivo apontado para a realização da operação naquele momento era o surgimento de áudios interceptados pela própria PF em que Marcola afirma que Bolsonaro “é pior” para sua facção criminosa em comparação com Lula, a quem chama de “pilantra” e “ladrão”.
Disseminado na campanha eleitoral como fake news, em publicações que diziam que Marcola havia declarado voto em Lula (presidiários com sentença transitada em julgado não votaram na eleição), o áudio era apontado no pedido à Justiça como indício de que o atentado a Bolsonaro poderia ter sido financiado por indivíduos ligados à facção criminosa.
Moretti não era o delegado responsável pelo caso, mas dirigia a DIP naquele momento. Daí porque sua nomeação para a diretoria-adjunta da Abin fez a informação sobre a operação Fenix passar a circular no Palácio do Planalto, no Ministério da Justiça e na própria PF.