Sábado, 12 de outubro de 2024

Investigações do caso Marielle são ampliadas e delegado Rivaldo é o fio condutor; mas tem mais?

O assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes não foi um crime isolado, mas sim um dos muitos praticados por uma organização criminosa incrustada em todos os Poderes e em toda parte no Rio de Janeiro, onde polícia, milícia, política e judiciário se embolam. Assim, já foram presos os executores e agora também os três mandantes, mas a guerra continua e as investigações avançam sobre um dos esquemas de propinas e de obstrução de Justiça que funcionam em todo a área de segurança do Estado.

As prisões, no domingo, do deputado federal Chiquinho Brazão, do conselheiro do Tribunal de Contas do Rio Domingos Brazão e do delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil, apontados como mandantes do crime, são um alívio para a sociedade e foram comemoradas pelas famílias de Marielle e Anderson. A grande surpresa, porém, foi a inclusão de Rivaldo. Ele é o fio condutor da continuidade das investigações, que vão aprofundar também as motivações do assassinato. Ok, milícias e grilagem na zona oeste do Rio. Mas tem mais?

Uma das grandes dúvidas é exatamente por que Rivaldo foi nomeado para a Polícia Civil, na véspera do crime, mesmo já sendo alvo de investigações e de um parecer frontalmente contrário feito pela Subsecretaria de Segurança do Rio. Quem o nomeou foi o general Walter Braga Neto, então comandante da intervenção na segurança do Rio, depois ministro e candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro à reeleição, em 2022.

Cara boa, bem educado e bem falante, Rivaldo foi uma das primeiras autoridades a consolar e garantir rígida apuração para as duas famílias, após o crime. Mas, se ele enganava com desenvoltura quem era fora do sistema, dentro já se sabia exatamente quem era. Sua nomeação, portanto, foi injustificável.

Agora, ele é apontado não só como pessoa chave para obstruir as investigações, pago pelos mandantes para esconder provas, confundir e empurrar pela barriga. É ainda pior, mais macabro: ele participou ativamente do planejamento do assassinato, como uma espécie de conselheiro dos irmãos Brazão.

Foi assim, e por esse tipo de gente nos Poderes, que a solução de um crime que repercutiu mundo afora demorou longos seis anos, com empurra-empurra, disse-me-disse e impunidade dos mandantes, como atestam o ex-ministro da Segurança Raul Jungmann e a então procuradora geral da República, Raquel Dodge – hoje candidata a uma vaga no STJ -, que nadaram contra a corrente o quanto puderam, mas não conseguiram federalizar o inquérito. No máximo, acabou sendo aberta a investigação federal da investigação estadual.

Como não há crime perfeito, mandantes e executores cometeram um erro grave: menosprezar a força de Marielle Franco. Acharam que seria mais um cadáver empilhado entre os crimes sem solução e logo abandonado, como há tantos outros de prefeitos, vereadores, juízes… Marielle, porém, era uma síntese poderosa no Brasil: mulher, negra, gay, de periferia, vereadora voltada realmente para as pautas populares e audaciosa contra as milícias. Ainda por cima, linda e carismática.

Foi assim que esses vários segmentos da sociedade se movimentaram para gritar, chorar, pressionar e exigir um desfecho digno para a investigação, Marielle e Anderson, suas famílias e amigos e, sobretudo, o Brasil. As duas principais perguntas estão respondidas: quem matou Marielle e Anderson e quem mandou matá-los. Agora, é saber com mais precisão o porquê e desbaratar as quadrilhas incrustadas nos Poderes que matam, esfolam, achacam e humilham a alma dos brasileiros.

Até lá, uma velha e sofrida pergunta ronda o Rio de Janeiro: até quando? E uma nova e apavorante insiste em ecoar: quais serão as próximas Marielles, os Andersons, os médicos que tomavam cerveja na praia, as crianças pobres, pretas e pobres vítimas de balas perdidas dentro de casa ou na sala de aula?

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