Quinta-feira, 25 de abril de 2024

Nove em cada dez brasileiros temem que local de maior risco de assassinato de mulheres é dentro da própria casa

Para nove em cada dez brasileiros, o local de maior risco de assassinato para as mulheres é dentro de casa, por um atual ou ex-parceiro, aponta a pesquisa ‘Percepções da população brasileira sobre feminicídio’, realizada pelo Instituto Patrícia Galvão e Locomotiva e divulgada nesta terça-feira (23). A diretora do instituto, Jacira Melo, acredita que o setor de segurança pública ‘continua devendo proteção às mulheres que são ameaçadas de feminicídio’.

“Nós temos uma lei avançada, mas não temos mecanismos condizentes com a tragédia que é o feminicídio no Brasil. É preciso um melhor treinamento e mais sensibilidade dos agentes de segurança pública e mais espaço de acolhimento para as mulheres”, defende Melo.

Segundo a pesquisa, 57% dos brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de ameaça de morte pelo atual ou ex-parceiro, o que equivale a 91,2 milhões de pessoas. Outros 41% conhecem um homem que já ameaçou de morte a atual ou ex-parceira, o equivalente a 65,6 milhões de pessoas, enquanto 37% conhecem uma mulher que sofreu tentativa ou foi vítima de feminicídio íntimo, aquele praticado por um atual ou ex-parceiro.

Participaram da pesquisa 1.503 pessoas (1.001 mulheres e 502 homens), com 18 anos de idade ou mais, entre 22 de setembro e 6 de outubro de 2021 em todo o País. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais.

A especialista avalia a Lei do Feminicídio, que completou seis anos neste ano, analisa as falhas do setor da segurança pública com a proteção das mulheres e os desafios do enfrentamento à violência doméstica no País.

1) O que essa pesquisa nos revela sobre a situação da mulher hoje no País?

A pesquisa revela um quadro dramático. Tem algo muito importante: o feminicídio já está no radar da população, que entende que o feminicídio é algo gravíssimo e que ocorre de maneira brutal no País. 57% da população conhece uma mulher que já foi vítima de ameaça ou de morte pelo parceiro ou ex-parceiro, é um número bastante significativo. A gente captou informações muito complexas.

A maioria, 90% dos brasileiros, considera que o local de maior risco de assassinato para as mulheres é dentro de casa por um parceiro ou ex-parceiro, e isso coincide com os dados de segurança pública. Uma parte significativa das mulheres é assassinada por um parceiro ou ex-parceiro dentro da casa.

2) Segundo a pesquisa, para 9 em cada 10, o local de maior risco de assassinato de mulheres é dentro de casa. Como acessar esse lugar privado da casa?

A gente que acompanha essa trajetória das mulheres vê que é muito complexo para as mulheres entender que aquela relação, aqueles desentendimentos, muitas vezes violência doméstica, aquela ameaça vai se concretizar. É difícil isso. É uma situação muito complexa.

A motivação do assassinato de uma mulher por um parceiro ou ex-parceiro é o desprezo e o sentimento de perda de controle sobre a mulher que decide sair da relação. Tem uma lógica masculina de controle, de fazer com que essa mulher aceito todo tipo de violência, e quando essa mulher toma a decisão de sair dessa relação, vem essa máxima (para o homem) de perda de controle e ele decide agredi-la fortemente ou até cometer o assassinato.

3) A pesquisa mostra que 65% consideram que o homem que comete feminicídio é o responsável pelo crime e deve ser punido. Ainda assim, 1 em cada 3 culpa a mulher pelo feminicídio: 30% culpam ambos (homem e mulher) e 3% culpam a própria mulher. Por que a população ainda tem essa percepção de que a culpa pode ser da mulher?

A gente ainda tem uma parcela pequena da população que tem essa visão de que a mulher foi assassinada porque ela rompeu com a relação, porque saiu de casa e deixou esse seu parceiro transtornado. Na verdade, não é bem assim. O assassinato de mulheres por parceiro ou ex-parceiro não pode ser observado como um ato isolado.

Esse assassinato não é um crime passional, essa morte não é fruto de paixão. No movimento de mulheres criamos uma máxima: ‘quem ama não mata’. Quem não aceita o fim da relação e mata, muitas vezes com requinte de crueldade, tem que ser responsabilizado. É um crime medonho, é um crime de ódio.

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