Sábado, 20 de abril de 2024

Número de amputações cresce no País e mais da metade envolve casos de diabetes

O número de amputações de membros inferiores aumentou significativamente no Brasil durante a pandemia de covid. Em média, 66 pacientes passam por esse tipo de cirurgia diariamente. Entretanto, em 2020, quando a crise sanitária se instalou no país, a média saltou para 75,64.

No ano seguinte, chegou a 79,19, a maior soma de procedimentos, totalizando 28.906 casos. Os dados são de levantamento da SBACV (Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular). Para especialistas, o problema estaria relacionado à descontinuidade no acompanhamento de pacientes com doenças crônicas durante o período.

Mais da metade dos casos de amputação envolve pessoas com diabetes, embora o problema também possa estar relacionado a muitos outros fatores de risco, como tabagismo, hipertensão arterial, idade avançada, insuficiência renal crônica, estados de hipercoagulabilidade e histórico familiar.

Entre 2012 e 2021, período do levantamento, 245 mil brasileiros sofreram com a amputação de pernas, pés ou dedos. O trabalho, feito com base em dados do Ministério da Saúde, mostra que, nesse período, de maneira geral, o aumento do número de procedimentos foi de 53% – o que se agravou nos últimos dois anos. A probabilidade de que o número de 2021, considerado o maior, seja superado em 2022 é alta, já que a média diária de procedimentos nos três primeiros meses deste ano é de 82.

A grande maioria dos procedimentos médicos teve queda acentuada durante a pandemia. No caso das amputações, no entanto, foi registrado um aumento. Para especialistas, isso ocorreu por conta da dificuldade de acompanhamento das complicações na saúde dos pacientes que, durante a emergência sanitária, abandonaram tratamentos e evitaram a ida a hospitais e consultórios com medo da contaminação pelo vírus.

Com isso, muitos acabaram indo ao hospital apenas nas situações mais graves, em que já não era possível evitar a amputação. Para o cirurgião vascular Mateus Borges, diretor da SBACV, “esses dados demonstram o impacto da pandemia no cuidado e na qualidade de vida dos pacientes”.

Segundo ele, pessoas com diabetes que desenvolvem úlceras e evoluem para quadros infecciosos demandam longos períodos de internação ou reinternação, com consequentes períodos de perda ou afastamento do trabalho, aposentadoria precoce e, por vezes, queda na autoestima, depressão ou criação de um quadro de dependência de familiares ou amigos.

Impactos

Em números absolutos, os estados que mais executaram procedimentos de amputação de membros inferiores no sistema público foram São Paulo (51.101), Minas Gerais (26.328), Rio de Janeiro (21.265), Bahia (21.069), Pernambuco (16.314) e Rio Grande do Sul (14.469). Por outro lado, os estados com o menor número de registros são Amapá (315), Roraima (352), Acre (598), Tocantins (1.154) e Rondônia (1.383).

Além de representar um grave problema de saúde pública, o crescimento constante no número de amputações no país traz fortes impactos para os cofres públicos, consumindo parte das verbas em saúde destinadas aos estados. Apenas em 2021, foram despendidos R$ 62.271.535.96 em procedimentos realizados em todo o Brasil.

Entre janeiro de 2012 e março de 2022, considerando-se a inflação de cada ano, foram gastos R$ 660.021.572,69, o que representa uma média nacional de R$ 2.685,08 por procedimento.

Prevenção

No caso do diabetes, cujos pacientes são as maiores vítimas das amputações, descuidos podem levar a grandes problemas. Um pequeno ferimento pode resultar em infecção que evolui para um caso grave de gangrena, elevando o risco de amputação.

O diabetes impacta a circulação sanguínea porque gera o estreitamento das artérias, causando redução dos índices de oxigenação e nutrição dos tecidos. Alterações de sensibilidade aumentam o risco de surgimento de pequenos ferimentos e potencializam sua evolução para casos mais graves.

Estudos mostram que 85% das amputações relacionadas ao diabetes têm início com uma lesão nos pés que poderia ter sido prevenida ou tratada corretamente, evitando-se complicações.

O cirurgião vascular Eliud Duarte Junior diz que “grande parte dessas amputações poderia ter sido evitada com práticas de auto-observação. O paciente bem informado que se examina com frequência poderá reconhecer a necessidade de uma intervenção precoce já nos primeiros sintomas. Identificar sinais de alerta precoces é imprescindível para reduzir a incidência de complicações”.

O paciente com esse fator de risco também deve estar atento aos perigos de acidentes e adotar mudanças de comportamento, como evitar andar de pés descalços ou, ainda, aderir ao uso de calçados apropriados.

“Muito antes de qualquer complicação maior surgir, o paciente pode sentir dores nas pernas, que é um sinal de má circulação sanguínea e entupimento das artérias”, explica o cirurgião vascular Brenno Caiafa.

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