Sexta-feira, 06 de junho de 2025

O Supremo ouviu 52 testemunhas sobre a tentativa de golpe de Estado; veja o que elas disseram

Os depoimentos das testemunhas de acusação e defesa dos 8 réus no processo que apura uma tentativa de golpe do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) terminaram nessa segunda-feira (2) com 52 pessoas ouvidas.

Bolsonaro é acusado de liderar uma organização criminosa que teria atuado para manter de forma ilegal o ex-presidente no poder, mesmo após derrota nas urnas em 2022.

As audiências foram conduzidas pelo relator da ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Alexandre de Moraes, e realizadas por videoconferência.

Com o fim dos depoimentos das testemunhas, Moraes marcou para 9 de junho o início dos interrogatórios dos réus dessa ação penal, os integrantes do chamado “núcleo crucial” da trama golpista.

O ministro do STF também deve pedir à Procuradoria-Geral da República (PGR) e às defesas que informem se querem a produção de novas provas para esclarecer os fatos. Os advogados podem requerer perícias e acareações, por exemplo.

Nos depoimentos, as testemunhas confirmaram a realização de uma reunião, no Palácio da Alvorada, em que foi discutida com Bolsonaro uma ideia de ruptura democrática.

Blitz

Testemunha de acusação indicada pela PGR, Adiel Pereira Alcântara, ex-coordenador de inteligência da Polícia Rodoviária Federal (PRF), afirmou em depoimento que ouviu uma ordem do então diretor de operações da PRF, Djairlon Henrique Moura, para que a inteligência do órgão atuasse para reforçar abordagens de ônibus e vans durante as eleições de 2022.

A orientação da chefia era que a PRF deveria “tomar um lado”, por determinação do diretor-geral.

A ordem para as abordagens partiram do Ministério da Justiça, segundo Djairlon, que faliu na ação penal na condição de testemunha de defesa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.

Ele confirmou que as blitz tinham como alvo ônibus saídos de São Paulo e do Centro Oeste com destino ao Nordeste, mas negou que houvesse intenção de fiscalizar eleitores para fins políticos.

Bronca

O general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, amenizou durante as audiências uma versão que havia apresentado à PF em relação à trama golpista.

À polícia, Freire Gomes havia dito que esteve em reunião, no fim de 2022, em que o ex-presidente Jair Bolsonaro falava em golpe de Estado.

Freire Gomes relatou à polícia que o então comandante da Marinha, almirante Garnier Santos, tinha concordado com planos golpistas. No depoimento ao STF, no entanto, Freire Gomes afirmou que não viu “conluio” por parte de Garnier.

Moraes ressaltou que o general, na condição de testemunha, não podia apresentar versões contraditórias sobre os fatos e alertou sobre as consequências de mentir no depoimento.

Militar “obediente”

Durante as audiências, os advogados do delator e ex-ajudante de ordens Mauro Cid tentaram desvincular o militar de qualquer intenção no plano golpista – e mostrar o delator como um militar “obediente”.

A defesa de Cid questionou as testemunhas sobre participação do militar em questão políticas dentro quartel e sobre respeito a hierarquias na vida militar.

As testemunhas negaram que Cid tenha falado sobre planos golpistas ou estratégias para impedir a posse de Lula em 2023.

Prisões 

Também arrolado como testemunha de Mauro Cid e de Bolsonaro, o ex-comandante do Exército Júlio César de Arruda disse que dividiu com integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a decisão de não permitir a prisão imediata de quem estava no acampamento em frente ao QG do Exército em Brasília logo após os atos golpistas do dia 8 de janeiro.

A decisão de prender quem estava no acampamento foi do ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal, mas acabou cumprida só no dia seguinte, em razão da resistência de Arruda.

Abin e software espião

O ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) delegado Carlos Afonso Gonçalves Gomes Coelho testemunhou em defesa do deputado e ex-diretor-geral do órgão Alexandre Ramagem (PL-RJ).

Ele relatou um desconforto de parte da cúpula da Abin ao saber de um procedimento de apuração sobre o software “First Mile”.

A ferramenta permitia rastrear a localização de um cidadão por meio dos dados que o celular dessa pessoa enviava a torres de telecomunicações instaladas nas cidades. O uso do programa está no centro de uma investigação de espionagem ilegal, que ficou conhecido como “Abin Paralela”.

Segundo o delegado, o então diretor do departamento de Operações de Inteligência, Paulo Maurício, foi “agressivo” e “ríspido” ao saber de um procedimento para verificar a regularidade no uso de um software espião pelo órgão.

Eleições

O ex-advogado-geral da União na gestão Bolsonaro Bruno Bianco afirmou que o ex-presidente perguntou a ele se havia algo que pudesse ser questionado em relação ao pleito de 2022.

Bianco disse que foi interpelado por Bolsonaro em encontro que teve a presença dos comandantes das Forças Armadas e afirmou ter dito ao então presidente que as eleições “haviam ocorrido de maneira correta e legal”.

“Triste e resignado”

O governador de São Paulo e ex-ministro de Bolsonaro, Tarcísio de Freitas, afirmou que nunca teve conhecimento de qualquer intenção golpista do então presidente Jair Bolsonaro e que ele estava triste e resignado após as eleições de 2022

“Jamais [tive conhecimento de intenções golpistas]. Nunca. Assim como nunca tinha acontecido no meu período de ministério. Nesse período em que estive com o presidente nessa reta final, nas visitas que eu fiz, ele jamais tocou nesse assunto e não mencionou qualquer tipo de ruptura. Encontrei um presidente triste, resignado. Esse assunto nunca veio à pauta”, disse Tarcísio.

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