Sexta-feira, 04 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 29 de outubro de 2023
Os candidatos que disputarão o segundo turno da eleição presidencial argentina em 19 de novembro, o peronista Sergio Massa e o ultradireitista Javier Milei, têm em comum a alta rejeição. De acordo com pesquisa da Universidade de San Andrés pouco antes do primeiro turno, de 68% e 53%, respectivamente. Para Milei, o desafio é ampliar de forma expressiva seu apoio entre as mulheres. Elas resistem ao estilo intempestivo do candidato, a símbolos de sua campanha, como a serra elétrica, e a propostas como a defesa do porte de armas. Já o ministro da Economia tem dificuldade de cativar as novas gerações de eleitores que, sobretudo no interior, apontam analistas, construíram conexão emocional com Milei.
São 8,3 milhões de eleitores entre 18 e 29 anos, pouco mais de 24% do eleitorado. E 18,2 milhões de mulheres aptas a votar, mais do que os 17,6 milhões de homens — 1.075 eleitores se identificam como não-binários. O voto feminino, como nas eleições brasileiras de 2022 e nas espanholas deste ano, é decisivo na Argentina. E, como brasileiras e espanholas, as argentinas parecem resistir à direta radical.
O peronismo sabe disso e no último debate Massa foi direto ao ponto: “Chega, Javier, deixe de desrespeitar as mulheres. Elas podem pensar diferente, mas têm esse direito.”
Pesquisas realizadas antes das primárias de agosto e do primeiro turno mostram que o voto feminino é um problema para o candidato do partido A Liberdade Avança, que ficou em segundo lugar domingo passado, com 29,98%, contra 36,68% de Massa. De acordo com a empresa de consultoria Opina Argentina, Milei tem 35% de apoio entre homens e 20% entre mulheres. Outra pesquisa, da Hugo Haime e Associados, mostra que entre os homens o candidato da direita radical tem 45% de imagem positiva e 52% de negativa; já entre as mulheres, o admirador de Jair Bolsonaro e Donald Trump tem 33% de positiva e 64% de negativa.
“A falta de apoio das mulheres explica a dificuldade de Milei em crescer. Entre as primárias e o primeiro turno ele conseguiu apenas 700 mil novos votos. Massa, mais de 3 milhões”, aponta Haime. Para o analista político , “a violência que Milei transmite causa repulsa em muitas mulheres”.
A equipe de campanha do candidato peronista tem focado na rejeição feminina a Milei, sobretudo nas redes sociais. Foram produzidos mais de 200 vídeos que circulam em plataformas como TikTok, Instagram e YouTube, a partir de propostas polêmicas do candidato da direita radical, entre elas a defesa do porte de armas sem amarras. Um deles mostra uma criança entrando numa escola e tirando uma arma de dentro da mochila na sala de aula. A legenda final é direta: “Pense antes de votar. Milei não”.
Fontes do comando da campanha de Massa confirmaram que o alvo desses vídeos, sustentados em propostas que Milei fez num passado não muito distante e suavizou nos últimos meses de campanha, é o eleitorado feminino.
Uma dessas fontes defendeu que a estratégia foi, essencialmente, a de ilustrar como seria a Argentina governada por Milei, “sem ridicularizar o candidato ou exagerar suas posições”. Os estrategistas de Massa passaram semanas revendo tudo o que Milei disse em programas de TV, de rádio e nas redes sociais nos últimos anos, e, em muitos casos, identificaram mulheres como vítimas de suas propostas ou ataques.
“Vimos Milei maltratando jornalistas mulheres, sendo agressivo. E as mulheres se opõem a posições do candidato, entre elas seu questionamento à legalização do aborto”, destaca Mariel Fornoni, diretora da Management & Fit.
Disputa acirrada em rejeição
A resistência feminina a Milei também está relacionada à sua proposta de redução drástica do Estado. Dados oficiais de 2022 confirmam que 26,1% das mães solteiras argentinas estão abaixo da linha da pobreza, e 4,6% indigentes. Essas mulheres recebem, em sua grande maioria, ajuda do poder público.
Seguindo o manual básico do peronismo, que nasceu com a bandeira da defesa dos mais humildes, Massa se dirigiu diretamente a essas mulheres em muitos atos de campanha. Argumentou que, votando pelo peronismo, elas garantirão a manutenção de direitos conquistados, entre eles o de bolsas estudantis, subsídios e vários programas sociais.
Mas o peronismo também enfrenta dificuldades para ampliar seu teto no segundo turno. A preferência dos jovens, sobretudo homens, por Milei, é clara, apontam os analistas. No ato de encerramento de campanha do candidato da direita radical, a presença majoritária de homens jovens era notória, e pesquisas que mediram o apoio a ambos candidatos por idade e gênero confirmam o favoritismo de Milei nesse segmento. De acordo com estudo da Hugo Haime, a imagem positiva do candidato de A Liberdade Avança entre os jovens (menores de 25 anos) é de 56%, contra 29% de Massa.