Segunda-feira, 07 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 17 de fevereiro de 2023
Em sua investida para arregimentar uma base sólida no Congresso, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu manter o comando da cobiçada
Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) nas mãos do Centrão.
A indicação à presidência da estatal, que tem orçamento bilionário, caberá ao líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), aliado próximo do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). Além disso, o Planalto entregará o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) para o Avante, sigla também sob a influência do parlamentar do PP.
A decisão sela um arranjo político que vem sendo costurado desde que Lula venceu as eleições, em outubro. Ciente de que precisaria da influência de Lira na Câmara para aprovar seus projetos, o petista mudou o tom das declarações sobre o deputado, a quem chegou a chamar de “imperador” na campanha, e ofereceu em troca amplo apoio de seu partido à recondução do líder do Centrão à presidência da Casa.
O parlamentar, por sua vez, até então aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, acenou de volta a Lula. Agora, ao deixar a Codevasf sob o controle de um indicado de Elmar, o titular do Planalto busca atender também a Lira. Como presidente da Câmara, ele tem o poder sobre a pauta de votações e, com isso, pode criar obstáculos à governabilidade.
O PP, legenda de Lira, e o União Brasil acertaram que vão se unir numa federação, modelo que obriga os partidos participantes a atuarem no Congresso como se fossem um só pelos próximos quatro anos. O movimento do governo visa a atrair a futura coligação — juntos, PP e União contam com 108 deputados, o que vai representar a maior bancada da Câmara, e 15 senadores, a segunda mais numerosa daquela Casa.
Desde que assumiu, Lula tem trabalhado ativamente para conquistar PP, PL e
Republicanos, as três legendas que formam o Centrão, bloco partidário mais
conhecido pelo pragmatismo político do que pelos posicionamentos ideológicos. Até agora, havia conseguido firmar um acordo com Republicanos, que aceita votar com o governo em projetos da pauta econômica e social. Ao agraciar Lira, aproxima-se do PP. A negociação mais complicada se dá com o PL, sigla de Bolsonaro.
O nome do presidente da Codevasf, porém, será apresentado por Elmar
Nascimento, personagem que o governo tinha deixado pelo caminho. Ele estava entre os favoritos para ser ministro da Integração Nacional, mas a ascensão foi barrada por petistas da Bahia, seus adversários no Estado. Depois disso, passou a atuar nos bastidores para seguir dando as cartas na Codevasf, como ocorria no governo de Jair Bolsonaro.
A estatal é presidida desde 2019 pelo engenheiro Marcelo Andrade Moreira Pinto, apadrinhado de Elmar. Segundo integrantes do governo, caberá ao líder do União decidir se manterá o atual presidente ou apresentará outro indicado. A atual gestão acumula uma série de denúncias de irregularidades.
Além da situação da Codevasf, foi definido que o comando do Dnocs ficará na cota do deputado Luís Tibé (MG), presidente do Avante. O partido elegeu sete deputados. Tibé também é próximo de Arthur Lira. O atual diretor do Dnocs, Fernando Marcondes de Araújo Leão, chegou a ser exonerado no começo do governo Lula, mas o ato depois foi revisto por interferência de Tibé e Lira.