Terça-feira, 04 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 11 de novembro de 2022
	
			
O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega enviou uma carta à Secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, e aos governos de Chile, Colômbia e Argentina pedindo para adiar a eleição para a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), marcada para 20 de novembro.
Na carta, Mantega diz falar em nome do novo governo e que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, gostaria de indicar outro candidato, de acordo com pessoas que tiveram acesso ao documento.
No mês passado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, indicou o economista e ex-presidente do Banco Central Ilan Goldfajn como o candidato do Brasil para presidir o BID.
Lula
Integrantes do governo de transição argumentam que não necessariamente o candidato a ser apoiado por Lula será brasileiro. O presidente eleito busca um nome de consenso, que possa unir a América Latina, afirmam auxiliares do presidente eleito.
A decisão de pedir a suspensão foi tomada após o aconselhamento do ex-chanceler Celso Amorim, para quem é necessário fazer um esforço diplomático que permita uma integração regional. De acordo com interlocutores de Lula, essa decisão foi tomada por ele logo após o segundo turno das eleições, realizado no dia 30 de outubro.
Havia chances claras pela primeira vez nos 59 anos de história do BID que o Brasil ter o comando da instituição, responsável por US$ 12 bilhões em empréstimos para prefeituras, Estados e governos na América Latina. A instituição também oferece assessoria sobre políticas, assistência técnica e capacitação a clientes públicos e privados em toda a região.
Em entrevista à Globo News, Mantega – que foi ministro da Fazenda e do Planejamento nos governos Lula –, disse que recebeu telefonemas integrantes da área econômica de países da América Latina se queixando que “não estavam satisfeitos” no encaminhamento da eleição para a presidência do BID.
“Então, resolvi entrar em contato, mandei sim um e-mail para a Janet Yellen, secretária do Tesouro americano. E andei conversando com vários ministros da Economia de vários países latino-americanos, no sentido de buscar um candidato de união para esses países”, afirmou.
Mantega disse que o governo Jair Bolsonaro “tentou dar mais um golpe” ao enviar a candidatura de Ilan Goldfajn ao BID às vésperas da eleição presidencial. Com isso, mesmo derrotado nas urnas, Bolsonaro teria a chance de emplacar um nome de seu interesse na instituição financeira.
“Não estou dizendo que (o Ilan) seja um mau candidato, mas o Bolsonaro tentou dar mais um golpe, criar um fato consumado e fazer um presidente do BID de forma equivocada. Não foram negociar com a Argentina, o Peru, a Colômbia, o Uruguai, eles lançaram um candidato simplesmente”, afirmou o ex-ministro.
Mantega foi anunciado nesta semana como um dos membros da equipe de transição de governo na área de planejamento, orçamento e gestão. Ele disse quer é necessário haver um candidato de consenso e, por isso, defendeu o adiamento da eleição.
“Se houvesse uma prorrogação aí você poderia conversar com os outros e poderia ser um candidato brasileiro ou poderia ser argentino, colombiano. Mas o importante é como você nomeia esse candidato, quais são os compromissos que ele vai assumir, a composição da diretoria, porque, tão importante quanto presidente, são os vice-presidentes.”
Apoio americano
Um dos economistas mais respeitados do País, Ilan não é identificado nem com Bolsonaro e nem com Lula, o que o credenciava para o cargo. O Tesouro dos Estados Unidos havia indicado o apoio a Ilan, o que deixava o caminho mais fácil. Os EUA são o maior acionista do BID, com 30% do capital (e dos votos). O Brasil tem outros 11%.
Economista de 56 anos, ex-presidente do BC (2016 a 2019), Ilan atualmente é diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI (licenciado para atuar em sua campanha e esta entrevista retrata apenas a sua opinião pessoal). Em entrevista no último fim de semana, ele afirmou que vencer a disputa no próximo dia 20 seria uma forma do País resgatar sua vocação de líder da América Latina e, ao mesmo tempo, um sinal de pacificação do País, após uma polarização política que levou à eleição mais disputada desde a redemocratização.
Composição
Atualmente, o BID é conduzido por Reina Irene Mejía, presidente interina. Mauricio Claver-Caron foi demitido do cargo em setembro, após uma investigação concluir que ele teve um relacionamento com uma funcionária e autorizou dois aumentos do salário dela, violando o código de ética da instituição.
O presidente do BID é eleito pela Assembleia de Governadores, na qual cada um dos 48 países-membros é representado por seu governador. Para ser eleito, o candidato deve obter a maioria dos votos dos países-membros.
O poder de voto varia de acordo com o número de ações detidas por cada país membro do BID. O candidato vencedor também deve ter o apoio de pelo menos 15 dos 28 países regionais.