Quinta-feira, 09 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 13 de março de 2023
Durante os 30 anos de registros e pesquisas sobre ataques de tubarão em Pernambuco, os cientistas identificaram duas ocasiões em que ocorreram o que se considera “surto de ataques”: em 1994 e 2004. Segundo o doutor em engenharia de pesca pela UFRPE e integrante da Sociedade Brasileira para o Estudo de Tubarões e Raias, Jonas Rodrigues, os três casos registrados em 16 dias em 2023 podem apontar para um novo surto e são um alerta para que as pesquisas sejam retomadas e mais medidas de proteção, adotadas.
“Falo isso sem intenção de causar pânico. Mas a gente só teve no histórico de incidentes com tubarões dois surtos: 1994 e 2004. Nesse momento em que temos maior informação científica, acredito que podemos estar diante de um novo surto”, considera o pesquisador, acrescentando que a situação é preocupante.
Rodrigues detalha que o número de ataques de tubarão a pessoas tem relação com diversos fatores, incluindo fatores naturais – como correntes marítimas e canais ao longo da costa – e também o desequilíbrio ambiental provocado pela consolidação do Porto de Suape e pelo aquecimento global.
Fatores como aterros para a ampliação do porto provocaram uma mudança no meio ambiente, alterando a ocorrência de espécies e a quantidade de peixes que habitam a região, o que também pode ter influenciado a presença de tubarões e como eles se comportam”, explica o pesquisador.
Ele acrescenta que a poluição, com grande quantidade de dejetos lançados nos rios e mares, pode provocar a diminuição da oferta de alimentos, o que pode influenciar os tubarões a trafegarem por áreas maiores para conseguirem se alimentar.
Sinalização
Para o pesquisador, é preciso instalar o que chama de “sinalização graduada” – relacionando as áreas e as situações mais propícias ao banho de mar, além da instalação de chuveiros na areia e banheiros em todo o litoral – para que as pessoas evitem entrar no mar nas áreas consideradas mais perigosas.
Com a maré baixa, nas regiões com presença de arrecifes, nas chamadas “piscinas naturais” – o banho de mar pode acontecer. Os riscos, segundo Rodrigues, estão nas áreas de mar aberto; por conta dos canais naturais e das correntes marítimas.
“Os tubarões vão no raso, sim. Principalmente em áreas de mar aberto, onde têm a possibilidade de se aproximarem mais da faixa de areia. Esses dois últimos casos [de ataques] foram no raso e em áreas de mar aberto – que possibilitam o trajeto desse animal mais próximo da costa. Mas não temos ocorrência de incidentes com tubarões com a maré baixa na área de proteção de arrecifes”, complementa.
Espécies ameaçadas
O número de ocorrências com tubarões no litoral de Pernambuco pode sugerir um aumento das populações das espécies com maior número de casos de ataques a seres humanos: o tubarão tigre (Galeocerdo cuvier) e o cabeça-chata (Carcharhinus leucas). Entretanto, essa não é a realidade constatada por pesquisas realizadas desde os primeiros incidentes, na década de 1990.
“São espécies com índices críticos de ameaça de extinção, consideradas vulneráveis e com baixa população, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Tanto que a gente não chegou a capturar nem 100 tubarões em oito anos de pesquisa”, explica o engenheiro de pesca Jonas Rodrigues.
Dos 77 ataques registrados desde 1992 em Pernambuco, em 15 foi possível determinar a espécie do animal. Foram 9 casos atribuídos ao cabeça-chata e 6, ao tubarão-tigre.