Sábado, 12 de outubro de 2024

Polícia Federal apura se a agência de inteligência usou sistema secreto de espionagem para vigiar os passos do ex-deputado federal Jean Wyllys, de um servidor do Tribunal Superior Eleitoral, além de caminhoneiros e em endereços de áreas nobres de Brasília e do Rio

A Polícia Federal (PF) investiga se a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) monitorou a localização de celulares do ex-deputado federal Jean Wyllys, de um servidor da área de tecnologia do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e de caminhoneiros. Há ainda a suspeita de que foram feitas vigilâncias durante as eleições municipais e em regiões próximas ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT), além de áreas nobres em Brasília e no Rio de Janeiro.

A Abin utilizou durante a gestão Bolsonaro um sistema secreto com capacidade de monitorar, sem autorização judicial, os passos de até 10 mil pessoas por ano. Para isso, bastava digitar o número de um contato telefônico no programa e acompanhar num mapa a localização registrada a partir da conexão de rede do aparelho. A ferramenta, chamada “First Mile”, foi produzida pela empresa israelense Cognyte (ex-Verint) e era operada, sem qualquer controle formal de acesso, pela equipe de operações da agência de inteligência.

Ao analisar os cerca de 1.800 acessos feitos pela Abin na ferramenta, um número que a PF considera ser apenas um extrato das consultas de fato realizadas no programa, investigadores descobriram que um contato relacionado ao ex-deputado Jean Wyllys foi monitorado.

No início de 2019, o ex-parlamentar optou por não assumir o novo mandato como deputado federal para o qual tinha sido eleito. Ele decidiu morar no exterior após receber uma série de ameaças no Brasil. Jean Wyllys fez oposição pública ao clã Bolsonaro e colecionou embates judicias com os filhos do ex-presidente.

A PF também apura as circunstâncias de um suposto monitoramento feito em um celular de um servidor do TSE. O integrante da Corte atuava na área de tecnologia, que, entre outras coisas, é responsável por zelar pelo funcionamento das urnas eletrônicas no País.

Durante o seu mandato, Bolsonaro atacou, de forma sistemática, o sistema eleitoral. O ex-presidente criticou, sem provas, as urnas eletrônicas e tentou manobrar no Congresso para votar uma proposta para o TSE adotar o voto impresso nas eleições. A investida foi rejeitada.

Outro ponto que chamou a atenção da PF foi um pico de acessos feitos no programa espião durante as eleições municipais de 2020. Investigadores traçaram um gráfico que mostram o crescimento expressivo de monitoramentos realizados no First Mile durante o período em que foram escolhidos prefeitos e vereadores por todo o Brasil.

A lista de monitorados pela Abin incluiria também lideranças de grupos de caminhoneiros e dirigentes de entidades do setor. Após a greve do segmento que paralisou o País em 2018, a agência de inteligência passou a intensificar a coleta de informações sobre ameaças de novos protestos.

Em 2018, quando era pré-candidato à presidência, Bolsonaro parabenizou a categoria pela “luta justa contra mazelas que atingem a população”. Em setembro de 2021, quando ele já era o chefe do Executivo, um grupo de caminhoneiros ocupou a Esplanada dos ministérios em apoio ao governo federal e contra o Supremo Tribunal Federal (STF).

Além desses alvos, a Abin também monitorou jornalistas, advogados e adversários do governo Jair Bolsonaro, segundo revelou a colunista Malu Gaspar. Em nota divulgada na última semana, a agência disse que instaurou procedimento para apurar o caso e que todas as solicitações da PF e do STF foram atendidas integralmente.

 

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