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Por Redação do Jornal O Sul | 31 de maio de 2022
Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostrando que o número de militares em cargos civis quase triplicou no governo de Jair Bolsonaro, na comparação com 2013, também aponta a distribuição dos membros das Forças Armadas pelos ministérios. O número, segunda a pesquisa, chega a 193%. Os maiores crescimentos são registrados em pastas que cuidam de áreas consideradas estratégicas na gestão Bolsonaro. Na lista estão os Ministérios da Economia, Meio Ambiente e Saúde.
Os dados dizem respeito aos cargos de Direção e Assessoramento (DAS) e Funções Comissionadas do Poder Executivo (FCPE), como são conhecidos os postos de confiança do governo federal. Segundo nota técnica do Ipea, eles são o subconjunto de cargos mais representativos dentre aqueles em que se observou ocupação por militares entre 2013 e 2021.
Conforme os dados do estudo, o Ministério da Economia tinha um militar em 2013. Em 2021 eram 84. Foi o maior aumento percentual entre todas as pastas, superior a 8000%.
No Ministério da Saúde, os militares passaram de 7 para 40, um crescimento de 471%. Na gestão do general Eduardo Pazuello, na parte dramática da pandemia, ele levou colegas de farda para a pasta.
Os resultados e as investigações da CPI da Covid, no Senado, fizeram com que a cúpula do Exército precisasse atuar nos bastidores para que Pazuello tentasse descolar sua imagem como ministro das Forças Armadas.
O Ministério do Meio Ambiente também recebeu uma quantidade grande de comissionados militares. Era 1 há nove anos. No ano passado, o total passou para 21. Houve ainda uma alta de 650% nas funções comissionadas da Educação, com salto de 2 militares para 15. Na Defesa, no mesmo período, o crescimento foi de 33,5%, pois os militares eram 167 e passaram a ser 223.
Entre 2013 e 2018, eram cerca de 300 militares nessas funções. Com a chegada de Jair Bolsonaro ao poder, a partir de 2019, o número saltou para 623. Em 2021, chegou a 742.
Para Piero Leirner, professor titular de Antropologia da UFSCar que se dedica ao estudo do contexto militar no Brasil, os militares promovem, com Bolsonaro, um aparelhamento do Estado. E esse movimento acaba sendo ofuscado pela influência do Centrão.
“Há uma militarização da política que não é recomendada em nenhum nível. O resto, isso que se chama de ‘bolsonarismo’ entre militares, é uma ilusão necessária para esse sistema se manter de pé”, frisou.
Já o general Carlos Alberto dos Santos Cruz não vê vinculação direta entre as Forças Armadas e o governo Bolsonaro. Para ele, a sociedade faz uma associação que na prática não existe e Bolsonaro tenta explorar para si o prestígio dos militares.
Militares
Ministério da Economia, 2013 (1) e 2021 (84); Ministério da Educação, 2013 (2) e 2021 (15); Ministério do Melo Ambiente, 2013 (1) e 2021 (21); Ministério de Minas e Energia, 2013 (2) e 2021 (19); Ministério da Justiça, 2013 (7) e 2021 (50); e Ministério da Saúde, 2013 (7) e 2021 (40).