Segunda-feira, 01 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 1 de dezembro de 2025
Quando somos crianças, o professor é o primeiro adulto fora da família capaz de nos explicar o mundo.
Era ele quem decifrava o quadro-negro, o barulho da sala, a timidez da nossa voz levantando a mão pela primeira vez. Naquele tempo, tudo era maior: o caderno novo, o cheiro de giz e do velho mimeógrafo, a história que parecia mágica, a bronca que fazia sentido.
E, sem perceber, começávamos a admirar esses personagens que pareciam ter acesso a um tipo especial de sabedoria. Alguns nos encantavam pela postura, pela inteligência, pela paciência infinita. Outros nos marcavam por motivos diferentes… “Ah, os adolescentes e suas paixões…”
Quem nunca? Eu mesmo tinha uma professora de matemática no terceiro ano que mexia com minhas estruturas. Eu ficava tão encantado que quase rodei de ano por causa dela.
Amor de criança, paixão de adolescente, confusão de hormônios, tudo misturado com números que eu fingia não entender, só para poder perguntar de novo.
A adolescência é um segundo capítulo dessa história. É quando o professor deixa de ser apenas referência e passa a ser espelho. Surge aquela mistura de respeito, admiração e descoberta.
A professora que tinha um perfume inesquecível, ou curvas inebriantes… O professor que explicava a vida melhor do que a própria matéria.
As paixõezinhas secretas, os olhares apressados, os corredores que guardavam memórias que a gente nunca esqueceu. Foi ali que entendemos, sem que ninguém nos dissesse, que um professor tem um poder que atravessa o tempo.
Depois vem a vida adulta e, com ela, os mestres que realmente moldam a nossa identidade. Na universidade, no técnico, na pós-graduação, encontramos professores que marcam a alma e, mesmo com as dificuldades de um sistema de ensino decadente já institucionalizado na maioria dos cursos, ainda existem aqueles que resistem silenciosamente.
Professores que seguem a tradição greco-romana, aquela que formava o aluno pela lógica, pela razão, pelo enfrentamento intelectual, incentivando o pensamento livre.
Os mestres que ensinavam a pensar por si só, não a repetir cartilhas. Esses são raros e, justamente por isso, inesquecíveis. São eles que lapidam, desafiam, incomodam e, no fim, libertam centenas de mentes no decorrer de suas carreiras.
Hoje, quando encontro um professor, faço uma brincadeira que sempre arranca risadas: “Lembra do Joãozinho da sua turma? Pois é, sou eu. Cresci!”
Não que fosse eu mesmo em carne e osso, é só uma forma metafórica e carinhosa de lembrar que todos nós fomos moldados por alguém que acreditou em nós antes mesmo de sabermos quem seríamos.
É impossível não sentir gratidão… Como agradecer alguém que nos ensinou mais que capítulos?
Como abraçar quem mudou nossa história com palavras simples? Como olhar para o passado sem reconhecer que parte do que somos nasceu dentro de uma sala de aula?
No fim das contas, o professor pode até ser quem abre a porta, mas é você quem precisa atravessá-la. O verdadeiro mestre não forma seguidores, forma livre pensadores.
É preciso aprender a absorver tudo o que é bom, respeitando cada ensinamento, mas devolver ao mundo apenas aquilo que combina com quem você é de verdade e, por fim, se tornou.
Porque professor bom não cria cópias, cria pensadores, homens e mulheres de valor que têm como destino moldar uma sociedade mais justa, humana e honesta.
* Fabio L. Borges, jornalista e cronista gaúcho