Domingo, 05 de maio de 2024

Relação entre depressão e doenças cardiovasculares é desvendada pela 1ª vez e abre caminho para novos tratamentos

“Analisamos o perfil de expressão gênica no sangue de pessoas com depressão e DCV e descobrimos 256 genes em um único módulo gênico cuja expressão em níveis mais altos ou mais baixos do que a média coloca as pessoas em maior risco de ambas as doenças”, diz a primeira autora do trabalho, Binisha H Mishra, pesquisadora de pós-doutorado da Universidade de Tampere, em comunicado.

Segundo os autores, um módulo gênico é um grupo que reúne genes que tenham padrões de expressão semelhantes e, portanto, estejam relacionados funcionalmente. Agora, os cientistas acreditam que isso fornece um novo caminho para o desenvolvimento de intervenções terapêuticas que atuem sobre as doenças.

“Podemos usar os genes desse módulo como biomarcadores para depressão e doenças cardiovasculares. Em última análise, esses biomarcadores podem facilitar o desenvolvimento de estratégias preventivas de dupla finalidade para ambas as doenças”, continua Mishra.

Os pesquisadores explicam que desde a década de 1990 já se sabe que a depressão e as DCV estão de alguma forma associadas. Os trabalhos mostram, por exemplo, que indivíduos com o diagnóstico psiquiátrico têm risco elevado de desenvolver doenças cardíacas. Um dos mais recentes, conduzido por cientistas da Universidade de Tokyo e publicado no mês passado, observou um grupo de quatro milhões de pessoas durante quase 20 anos e identificou que esse risco pode ser até 64% maior.

Por outro lado, também no mês passado, um estudo publicado no periódico da Associação Americana do Coração, de pesquisadores da Universidade do Estado de Ohio, nos Estados Unidos, mostrou que o tratamento da depressão reduziu internações entre pessoas com doenças cardíacas prévias em até 75%. A associação aconselha o monitoramento de adolescentes com depressão em relação a DCV.

O que estava por trás dessa relação, no entanto, ainda era um mistério, ao menos em partes. Os especialistas consideravam, por exemplo, que alguns fatores de estilo de vida são comuns às duas doenças, como tabagismo, abuso de álcool, sedentarismo, alimentação inadequada, e que eles teriam um papel em elevar o risco simultaneamente dos dois diagnósticos.

Investigação

Mas ainda não se sabia se havia uma relação mais profunda, como em mecanismos biológicos compartilhados pelas duas doenças. Por isso, os cientistas decidiram estudar dados de expressão gênica de 899 finlandeses que faziam parte de um grande estudo sobre fatores de risco cardiovascular, o Young Finns. Esse acompanhamento teve início ainda em 1980, na época englobando participantes entre 3 e 18 anos – hoje com idades entre 34 e 49 anos.

Em 2011, os pesquisadores responsáveis pelo Young Finns avaliaram os sintomas de depressão dos participantes, assim como o risco de desenvolver uma doença cardiovascular. Além disso, coletaram amostras de sangue de cada voluntário. Todo esse material foi agora analisado pela equipe da Universidade de Tampere.

A partir do sangue, os cientistas utilizaram técnicas avançadas que foram capazes de identificar o módulo de 256 genes que estava associado tanto a mais sintomas de depressão, como a pontuações mais altas no risco de doenças cardíacas, explica Mishra:

“Os três principais genes desse módulo genético são conhecidos por estarem associados a doenças neurodegenerativas, transtorno bipolar e depressão. Agora mostramos que eles também estão associados à saúde cardiovascular ruim”.

Os pesquisadores afirmam que esses genes estão envolvidos em processos biológicos do corpo, como a inflamação.

De fato, um outro estudo publicado neste mês, por cientistas da Universidade de Vanderbilt e do Hospital Geral de Massachusetts, ambos dos EUA, apontou que a doença arterial coronariana, um dos diagnósticos cardíacos mais comuns, pode ter uma relação com a depressão grave por meio de vias inflamatórias.

“Esse trabalho sugere que a inflamação crônica de baixo nível pode contribuir significativamente para a depressão e a doença cardiovascular”, disse a autora do estudo, publicado na Nature Mental Health, Lea Davis, da Universidade de Vanderbilt, em comunicado.

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