Sábado, 27 de abril de 2024

Renúncias na equipe de Paulo Guedes tumultuam a cena política

A debandada no Ministério da Economia tumultuou ainda mais o ambiente em Brasília e repercutiu entre economistas tanto da academia quanto do mercado financeiro. Embora os demissionários tenham alegado motivos pessoais e agradecido ao ministro Paulo Guedes, há um entendimento de que as saídas foram uma reação à possibilidade levantada pelo governo de mudar o indexador da regra do teto de gastos para viabilizar o Auxílio Brasil, nome dado a um novo Bolsa Família ampliado com assinatura do governo Bolsonaro.

“É a sinalização de que o governo, de fato, perdeu a capacidade de resposta de equilíbrio fiscal”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, elogiando a atitude do secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, e do secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, notabilizados pela defesa contundente da agenda de disciplina orçamentária dentro do Ministério da Economia.

Para o economista da PUC-Rio, Márcio Garcia, as renúncias apontam que o teto de gastos foi furado. “Indica que chegou-se a um ponto em que o teto de gastos foi arrombado. Não quiseram manchar suas biografias com coisas que não deveriam ser feitas”.

Segundo Márcio Garcia, a saída em grupo passa a pior mensagem possível para o mercado. “Quando se tem quatro saindo ao mesmo tempo, alguma coisa quer dizer”, afirma. “[A reação do mercado] deve ser ainda pior do que foi na quinta-feira (21).”

Segundo um economista do mercado financeiro que pediu anonimato, a grande pergunta agora é se o ministro Paulo Guedes se manterá no cargo.

Após a notícia, ele cancelou a participação no 93º Encontro Nacional da Indústria da Construção – CBIC. “Não restou muita gente agora que defende o atual arcabouço fiscal. A agenda de responsabilidade fiscal fica, sem dúvida, abalada”, disse. “Guedes apoia a pauta reformista. Isso não há dúvida. A questão agora é política. Está acima dele”, acrescentou.

Já para Fernando Siqueira, gestor da Infinity Asset, a notícia das demissões é negativa, mas o mercado já estava preparado para algo do tipo depois que, na quarta-feira (20), Guedes anunciou que o governo pretende levar adiante o aumento do Bolsa Família contornando o arcabouço do teto de gastos.

“Essas saídas só mostram que é uma medida ruim e que não havia consenso no Ministério da Economia para fazer isso. Algumas pessoas preferem se dissociar desse tipo de política eleitoreira”, diz. “Mas acho que tem como Paulo Guedes substituir essas pessoas, provavelmente dentro do próprio quadro do ministério”.

Na visão de Carlos Kawall, diretor da corretora ASA Investments, a apresentação do novo parecer do deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) para a proposta de emenda à Constituição (PEC) dos precatórios, alterando a apuração do teto, mostra que a ideia já vinha sendo costurada para abarcar a ampliação do Bolsa Família para R$ 400 e o Congresso terá dificuldade em não apoiar uma expansão de programa social, sendo que já há sinais de que haverá pressão para ser em valor maior. “Abriu-se a porteira”, comentou, depois que sua corretora reviu sua projeção de PIB do ano que vem de crescimento de 1,5% para alta de 0,4% justamente devido à incerteza fiscal. O Credit Suisse também reduziu a previsão do PIB de 5,3% para 5% em 2021 e de 1,1% para 0,6% em 2022.

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