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Por Redação do Jornal O Sul | 20 de setembro de 2022
A incidência de câncer antes dos 50 anos de idade tem crescido a cada geração e aponta para o surgimento de uma “epidemia global” da doença entre adultos jovens nas próximas décadas, segundo artigo de pesquisadores da Universidade Harvard (EUA) publicado pela revista Nature Reviews Clinical Oncology. Mudanças de hábitos, como sedentarismo, sono ruim e uso de antibióticos são algumas das prováveis explicações para esse fenômeno.
O estudo analisou dados epidemiológicos de 14 tipos diferentes de câncer em 10 países de todos os continentes no período entre 2002 e 2012, além de revisar as evidências sobre a incidência global da doença em décadas passadas e suas possíveis causas. Conforme a pesquisa, intitulada “O câncer de início precoce é uma epidemia global emergente? Evidências atuais e implicações futuras”, o aumento progressivo na incidência teve um pico a partir dos anos 1990.
“As razões para esse fenômeno não são claras, mas estão provavelmente ligadas a mudanças na exposição a fatores de risco nos primeiros anos de vida ou no início da idade adulta a partir da metade do século 20″, escreveram os autores, liderados pelo pesquisador Tomotaka Ugai, da Faculdade de Medicina de Harvard.
Na avaliação dos cientistas, avanços no rastreio do câncer têm influência limitada nesses números, e fatores ambientais podem estar por trás do crescimento. Isso inclui tendências de hábitos de vida modernos, como a intensificação do consumo de álcool e de alimentos ultraprocessados, obesidade, sedentarismo, mau sono e uso de antibióticos, indicam os pesquisadores de Harvard.
“Muita gente achava que o aumento de casos de câncer era pelo envelhecimento e métodos diagnósticos mais precisos, mas fatores ambientais, principalmente alimentares, estão influenciando bastante na incidência em idades mais precoces”, diz o médico oncologista Bruno Filardi, oncogeneticista do Serviço de Genética Médica do Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Para ele, o estudo de Harvard expõe de modo mais claro um fenômeno global já conhecido na área.
O médico ressalta que ainda não há clareza sobre os mecanismos que associam hábitos de vida à doença. Mas, acrescenta ele, a epigenética, área que investiga como estímulos ambientais podem ativar ou suprimir genes, tenta entender como esses fatores interagem com susceptibilidades genéticas associadas ao câncer. “Sabemos que há um fenômeno de carcinogênese ligado à exposição, por exemplo, a certos tipos de alimentos”, explica.
Hábitos saudáveis
Filardi também alerta que o câncer tende a ser mais agressivo quando acomete pessoas com menos de 50 anos em comparação a casos em pacientes. Ele pondera ainda que é difícil isolar um único fator responsável pelo aumento dessa incidência.
“São hábitos que mudam em uma população. Não se trata de um único alimento novo, mas um estilo de vida com maior consumo de gordura, sal, álcool, carne vermelha, condimentados, processados e menor exercício físico”, afirma o médico.
Conforme dados do levantamento Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel),feito pelo Ministério da Saúde, a proporção de adultos obesos no Brasil chegou a 21,5% em 2020. Essa taxa era de 11,8% em 2006.