Domingo, 19 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 25 de outubro de 2023
Enquanto uma solução diplomática para a resolução do conflito entre Israel e o Hamas não avança e a intensidade dos bombardeios aumenta diariamente em Gaza, crescem as críticas, inclusive de aliados, à ausência de um plano concreto do governo israelense para o enclave após a invasão terrestre, cada vez mais iminente.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, prometeu “exterminar o Hamas”, mas sem definir claramente o que isso significa. Nesta quarta-feira, em um discurso à nação, incentivou cidadãos israelenses a andarem armados e pediu aos civis palestinos para saírem do norte de Gaza, dando a entender que a invasão por terra irá acontecer em breve.
Segundo o Wall Street Journal (WSJ), o premier teria concordado em adiar, pelo menos por enquanto, o movimento das tropas, até que os Estados Unidos enviem defesas antimísseis para a região. De acordo com autoridades dos EUA e de Israel ouvidas pelo jornal, o Pentágono estaria trabalhando para implantar cerca de 11 sistemas de defesa aérea na região.
“Temos que responder pelo que aconteceu no dia 7 de outubro. Na condição de responsável pela guerra, vou fazer de tudo para uma vitória esmagadora. Vamos avançar adiante, com força e fé”, declarou o primeiro-ministro em pronunciamento na TV, sem dar prazos ou detalhes da invasão.
Mas quase 20 dias após o ataque sem precedentes do grupo terrorista, que deixou mais de 1.400 israelenses mortos, Netanyahu ainda não apresentou um programa detalhado para a Faixa de Gaza em um cenário pós-invasão, levantando receios dentro do governo — e em Washington — de que não há sequer consenso interno sobre o futuro da estreita faixa costeira onde viviam, antes do conflito, 2,3 milhões de pessoas.
E qualquer plano para a região, concordam analistas, deveria estabelecer de imediato quem passará a controlar Gaza no “dia seguinte”.
Como condição para aderir ao governo de emergência de Netanyahu nos dias que se seguiram ao ataque, os líderes da oposição Benny Gantz e Gadi Eisenkot, ambos ex-chefes militares, insistiram, sem sucesso, na criação e apresentação de um plano para a retirada dos militares de Israel do território e com a determinação de quem substituiria o Hamas no comando civil do enclave. Mas até agora não há respostas, apesar do esforço frenético do alto-escalão do gabinete de guerra de estabelecer objetivos, criar cenários pós-conflito realistas e alcançar algum consenso entre o comando das forças armadas israelenses e as lideranças políticas do país.
Reocupação de Gaza
Um tema recorrente nas propostas debatidas dentro do governo é o de se evitar a reocupação israelense de Gaza. Israel retirou-se do enclave em 2005 e o Hamas governa a região desde que um golpe violento, em 2007, expulsou a Autoridade Nacional Palestina (ANP), mais moderada.
Também se discute a necessidade de reforçar a ANP, que pode ser chamada a retomar o controle de Gaza, apesar de ser considerada uma instituição fraca e sem credibilidade entre os próprios palestinos. Qualquer medida do tipo, no entanto, também exigiria mudanças generalizadas na política de Israel para a Cisjordânia ocupada, onde a ANP está sediada, inclusive sobre a crescente expansão dos assentamentos.
“Não importa o sucesso da operação militar na derrota do Hamas. O imperativo político do grupo e o apoio da população à resistência continuarão”, apontou Tom Beckett, militar reformado do Exército britânico e diretor-executivo do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos do Oriente Médio. “Ou Israel reocupa Gaza para controlá-la ou, ao se retirar após uma ofensiva, cederá terreno à resistência”.
Crítica dos EUA
Muitas propostas independentes sobre o futuro de Gaza pós-invasão circularam em Washington nos últimos dias. Mais de uma vez, inclusive, os Estados Unidos manifestaram diretamente sua preocupação com o tema, segundo fontes próximas do processo.
Em visita a Tel Aviv, na semana passada, o presidente americano, Joe Biden, tentou convencer os seus interlocutores de que havia alternativas à ofensiva terrestre em um futuro imediato. Além de temer pela vida dos reféns americanos, os EUA e seus parceiros ocidentais temem que a ocupação, sem um plano claro para Gaza, aumente o risco de uma conflagração regional no Oriente Médio.