Sábado, 12 de outubro de 2024

Tráfico e corrupção: maconha negociada por policiais do Rio viajou disfarçada como carga de frango

O caminhão com 16 toneladas de maconha que foi escoltado e negociado por policiais civis, alvos de uma operação, viajou disfarçado de toneladas de frango congelado. Na última quinta-feira (19), uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público do Rio (MPRJ) prendeu quatro agentes da Polícia Civil e um advogado por envolvimento no crime, eles são acusados de tráfico de drogas e corrupção. Segundo a investigação, os policiais usaram duas viaturas ostensivas da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) para abordar o caminhão, que veio de Mato Grosso do Sul carregando o entorpecente.

Segundo a nota fiscal do serviço de carga, o “frango” seria levado para um frigorífico em Niterói. O motorista saiu de Campo Grande (MS) no dia 6 de agosto rumo ao destino na região metropolitana do Rio. Dois dias depois, na altura de Lavrinhas (SP), às 14h30, seis policiais abordaram o veículo, segundo a denúncia do MPRJ.

Depois de desembarcarem de dois Corollas com caracterização da DRFC, eles pediram a nota fiscal da mercadoria. O condutor alegou que transportava carne, mas os agentes falaram que receberam uma denúncia de que sua carga era de maconha.

Um policial que se identificou como Jorge entrou na cabine, onde permaneceu até o Rio. Na altura de Piraí, oito agentes da PRF — com informações da inteligência — pediram para o comboio parar. O policial no banco do carona apresentou o distintivo, informou que o condutor estava preso e conseguiu a liberação rumo à Cidade da Polícia, onde chegou às 18h30.

Segundo a denúncia do MPRJ, assim que o motorista foi abordado pelos policiais, ele comunicou ao chefe que estava sendo levado para a Cidade da Polícia, onde a negociação com o traficante aconteceu. De posse do telefone do motorista, os agentes fizeram contato com o criminoso, que ofereceu R$ 300 mil em troca da não realização do flagrante. Eles também pediram a liberação do veículo apreendido e a identificação da pessoa que teria delatado aos policiais o transporte das drogas, chamado de “X-9”.

No dia seguinte, o caminhão foi levado até uma comunidade, onde foi descarregado a 1h da manhã. Para chegar ao local, o veículo foi escoltado por duas viaturas, além de uma caminhonete e um carro hatch escuro, onde estaria o advogado. Rastreios indicam que o local escolhido foi a comunidade de Manguinhos, vizinha à Cidade da Polícia. A descarga durou três horas. Depois, o condutor é liberado e dois mototaxistas escoltam o motorista até a saída do local, próximo à Avenida Brasil.

Na parte da tarde, a PRF aborda o caminhão na altura de Resende, no sentido São Paulo. Com a carga vazia, o motorista apresentou nota fiscal com destino a Niterói, apesar de dizer ter descarregado no Rio. Ele narrou aos agentes a escolta dos policiais civis e cães farejadores identificaram resquícios de droga na carga, o que foi confirmado por testes. Foi a partir da nota fiscal que a investigação concluiu a quantidade de drogas negociada pelos agentes, já que ela não foi localizada.

Caso

Quatro policiais civis foram presos na Operação Drake, realizada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público do Rio. Alexandre Barbosa da Costa Amazonas, Eduardo Macedo de Carvalho, Juan Felipe Alves da Silva e Renan Macedo Villares Guimarães eram lotados da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC), instalada na Cidade da Polícia, na Zona Norte. Além deles, o advogado Leonardo Sylvestre da Cruz Galvão também foi preso.

Também foram cumpridos seis mandados de busca e apreensão, expedidos pela 1ª Vara Criminal da Comarca de Resende/TJRJ. Cerca de 50 agentes estão na capital fluminense e em Saquarema, na Região dos Lagos, em endereços ligados aos envolvidos, já denunciados pelo Ministério Público. Um deles foi a Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas, que fica na Cidade da Polícia, local que reúne outras especializadas, como a Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE).

A investigação teve início com ação integrada do serviço de inteligência da Polícia Rodoviária Federal com a PF. Em agosto deste ano, duas viaturas ostensivas da DRFC abordaram um caminhão, que veio de Mato Grosso do Sul, carregado com 16 toneladas de maconha na divisa de São Paulo com o Rio de Janeiro. Após escoltarem o veículo até a Cidade da Polícia, os agentes negociaram, por meio de um advogado, a liberação da droga e a soltura do motorista, mediante ao pagamento de propina.

De acordo com a denúncia do MP, “os crimes averiguados são concretamente graves, pois se trata de denúncia envolvendo agentes públicos e advogado, como incursos na suposta prática do crime de tráfico de drogas interestadual, corrupção passiva e corrupção ativa”.

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