Domingo, 06 de outubro de 2024

Vá em paz, Renato

Na semana passada faleceu “Clarinha”.

Ela ficou internada quase 24 anos em estado vegetativo em Vitória. Foi vítima de atropelamento no dia dos namorados em 12/06/2000. Como não tinha documentos e nenhum familiar a visitou durante todos estes anos, a desconhecida recebeu o nome de “Clarinha” pela equipe médica que a adotou por este longo período de tempo. O estado vegetativo é decorrente de grave dano do córtex cerebral. É a morte do cérebro!

A análise da vida a partir de uma conclusão médica de irreversibilidade oferece discussão dentro da medicina, da religião, da filosofia e da ética.

Segundo o “Guiness World Records” o caso mais longo e documentado é de Elaine Esposito que permaneceu em estado vegetativo por 37 anos. A mesma foi submetida a uma apendicectomia (ressecção do apêndice) e nunca mais recuperou a consciência.

Em 2015 faleceu a indiana Aruna Shanbuag que foi estuprada sofrendo graves lesões cerebrais em 1973. Passou 42 anos num hospital em Mumbai. O caso despertou uma polêmica mundial a respeito da eutanásia. Conceitualmente é a conduta de provocar a morte de um paciente com enfermidade terminal e incurável. É aliviar o sofrimento de forma suave e indolor.

Entretanto o caso mais famoso é o de Michael Schumacher. Sete vezes campeão de Fórmula 1. Desde dezembro de 2013, após chocar-se com uma pedra em grave acidente de esqui, nunca mais recuperou as funções cerebrais. Desgraçadamente o piloto filmou o seu próprio acidente. Em 2016, o jornal “The Sun” publicou reportagem e concluiu que a família do piloto gastava 24 milhões de reais por ano para mantê-lo vivo.

São dois milhões por mês!

A eutanásia é movida por um sentimento de compaixão que é o fiador de uma morte mais digna e humanizada. A ortotanásia é a conduta médica de não interferência no curso natural da doença. É a omissão consciente do médico com conivência da família. Medicamentos e aparelhos artificiais, mantenedores da vida, não devem ser mais usados.

No Brasil a eutanásia é crime, mas a ortotanásia é aceita pelo Conselho Federal de Medicina desde 2010. Evidentemente cria um conflito ético médico pois juramos reunir todos nossos esforços para a cura do paciente.

Recentemente este dilema terrível envolveu nossa família com a morte do meu cunhado Renato. Afável, educado, gentil polido e cortês. Era considerado um lord inglês. Depois de ficar cinco meses na UTI, nos deixou! O amargor na boca e no coração será eterno. Será que nós familiares médicos não poderíamos ter feito algo maior e melhor para evitar tanto sofrimento.

Vá em paz Renato, nos perdoe!

(Carlos Roberto Schwartsmann – Médico e Professor universitário)

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