Terça-feira, 08 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 7 de janeiro de 2023
Foi em 2009, penúltimo ano do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), agora de volta à Presidência, que a China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil, ultrapassando os Estados Unidos. Desde então, a relação econômica entre os dois países ganhou força e se consolidou.
Mas, no plano político, os últimos quatro anos, sob a presidência de Jair Bolsonaro (PL), representaram um ponto fora da curva nesses laços: foram marcados por animosidade, com direito, inclusive, a troca pública de farpas, como o episódio que envolveu Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, e o então embaixador chinês em Brasília, Yang Wanmig.
Apesar disso, o atrito não esfriou o comércio entre os dois países que, ao que tudo indica, pode bater novo recorde em 2022.
Como está, então, a relação entre o Brasil e a China e o que deve mudar neste terceiro mandato de Lula?
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil dizem acreditar que, se por um lado, não deve haver grandes mudanças no comércio bilateral entre os dois países, por outro, esperam uma reaproximação no campo político, além de um enfoque maior em setores como sustentabilidade e meio ambiente, uma agenda já definida como prioritária pelo novo governo brasileiro.
Um bom sinal nesse sentido, na opinião deles, veio com o anúncio de que Lula vai visitar a China, além de Estados Unidos e Argentina — os três países são, atualmente, os principais parceiros comerciais do Brasil.
Os especialistas alertam, contudo, que o novo governo petista deveria estabelecer bases para uma relação “mais sofisticada” com a China dentro do próprio agronegócio, bem como reduzir sua dependência da exportação de commodities (matérias-primas como petróleo e soja), por meio de produtos de maior valor agregado. Parcerias em setores estratégicos, como energia e tecnologia, têm que ser aprimoradas e intensificadas, acrescentam.
“A relação política com a China esfriou muito no governo Bolsonaro. Mas ainda assim a parte comercial em si não foi particularmente prejudicada, tendo inclusive crescido no ano passado (até novembro; os dados de dezembro ainda não foram divulgados). Acho curioso que, apesar desse desinteresse – e até mesmo certa animosidade – de parte do governo Bolsonaro, a relação com a China fluiu muito bem em termos práticos na área econômica. Os investimentos aumentaram, o comércio bateu recorde atrás de recorde, abriram novos mercados para produtos agrícolas na China”, explica à BBC News Brasil Tulio Cariello, diretor de conteúdo e pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).
“Então, no fim das contas, acho que todo esse suposto afastamento da China foi uma coisa “teatral” de uma minoria do governo passado. Até porque existem setores poderosos absolutamente interessados na manutenção de boas relações com o país, com é o caso do agronegócio e da mineração. Até mesmo parte da indústria (aquela que compra insumos importados) busca intensificar as relações com a China”, acrescenta.
Cariello lembra que, a despeito das tensões políticas entre Brasil e China, com declarações repetidas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e pessoas do seu entorno contra o gigante asiático durante seu governo, o Ministério da Agricultura criou um “Núcleo China”, uma unidade especial que cuidava das relações com aquele país, a pedido da ex-ministra Teresa Cristina e ligada diretamente a seu gabinete.
De fato, segundo documento intitulado “Investimentos chineses no Brasil: histórico, tendências e desafios globais (2007-2020)”, do CEBC, o mais abrangente já realizado sobre o tema, as ações concretas do governo brasileiro indicaram “mais continuidade do que ruptura na relação bilateral” com a China.
Entre 2007 e 2021, a China investiu no Brasil US$ 70 bilhões – só em 2021, os investimentos totalizaram US$ 5,9 bilhões, o maior valor desde 2017.
E, no ano passado até novembro (os dados de dezembro ainda não foram divulgados), a corrente de comércio bilateral já aponta novo recorde: US$ 139,4 bilhões, cifra que supera a marca de US$ 135,4 bilhões registrada em todo o ano de 2021.
Vale lembrar também que o maior superávit (diferença entre exportações e importações) do Brasil com um só país é com a China – isso significa que mais recursos estão entrando no país, melhorando a economia e gerando mais renda, do que saindo. E também representa algo pouco comum, uma vez que geralmente é a China quem tem superávit com seus parceiros (ou seja, vende mais do que compra).