Sábado, 18 de janeiro de 2025

Veja se existe solução para o conflito entre Israel e Palestina?

O conflito no Oriente Médio já se estende há uma semana com mortes e destruição. Desde o último sábado (7), mais de 3 mil pessoas morreram na guerra, que começou após um ataque do grupo terrorista Hamas contra Israel.

A complexidade do conflito é agravada pela longa ocupação do território palestino por Israel, pela influência e interesse de outros países no Oriente Médio e do passivo histórico da longa disputa por terra na região.

Já são mais de 70 anos sem que a proposta da criação de dois Estados, um judeu e um árabe, tenha se concretizado.

Diante desse cenário, especialistas (Arlene Clemesha, Guilherme Casarões, Karina Calandrin e Natalia Nahas Calfat) opinam se é possível imaginar uma solução para o conflito, tanto imediato quanto histórico.

Bases

Na avaliação de Karina e Casarões, a solução para o conflito entre Israel e Palestina passa pelo resgate da proposta de criação de dois Estados, um Estado Palestino que existiria ao lado do Estado de Israel.

“Nenhuma outra solução — seja um estado único, seja um estado binacional — consegue contemplar totalmente os anseios de autodeterminação de ambos os povos”, diz ela. “E o primeiro passo para isso é o reconhecimento mútuo. Há uma tentativa de deslegitimar os dois lados, tanto a causa palestina quanto a autodeterminação judaica”.

Para Arlene, a construção de uma solução também passa pelo reconhecimento de uma humanidade comum para ambos os povos — que está “acima de qualquer fórmula possível sobre dois estados ou um estado” —, além da garantia de direitos humanos e direitos civis para os palestinos, que vivem há décadas sob um regime de leis altamente restritivas.

Segundo Natalia, as bases para o entendimento entre israelenses e palestinos foram estabelecidas durante os Acordos de Oslo, que acabam de completar 30 anos sem terem sido cumpridos.

Essa experiência, apesar de ter falhado, demonstra que é sim possível desenhar um acordo com mediação internacional. Segundo Natalia, o combinado terá que passar por mecanismos de engenharia política e, principalmente, de compartilhamento de poder.

A viabilização da criação do Estado Palestino com manutenção do Estado de Israel precisaria resolver vários empecilhos. Os principais, na visão de Casarões e Karina, são:

* Os assentamentos israelenses na Cisjordânia: São mais de 600 mil israelenses vivendo na região nos chamados assentamentos, que, na prática, são cidades em muitos casos bem estruturadas. Essas pessoas precisariam ser retiradas, o que envolveria um enorme esforço político, logístico e econômico.

*O status de Jerusalém: “Israel quer assegurar uma Jerusalém ‘una e indivisível’ como capital do país, ao passo que a demanda palestina tem sido no sentido de ter ao menos Jerusalém oriental (onde fica a cidade antiga, lugar sagrado para o islã, para o judaísmo e até mesmo para o cristianismo) sob seu controle”, explica Casarões. Karina lembra que, em uma cúpula de 2000, foram os israelenses que propuseram divisão da cidade.

*Há ainda a questão dos refugiados palestinos, expulsos das áreas que hoje configuram Israel em 1948, ano que o país foi criado. A expulsão, designada pela palavra árabe “Nakba”, que significa catástrofe, levou ao deslocamento forçado de centenas de milhares de árabes palestinos – alguns estão vivos até hoje, outros deixaram descendentes que, para a ONU, também são refugiados.

“Essas pessoas nunca puderam retornar. Várias pesquisas mostram que nem todos gostariam de voltar para suas terras de origem, mas ao menos poder visitá-las”, explica Arlene. “Essa questão não pode ser resolvida na configuração dos dois estados, mas sim na de um estado único, em que judeus e palestinos teriam seus direitos respeitados, afinal, ninguém vai depender que judeus saiam hoje desses territórios, eles estão lá há 75 anos, já estão estabelecidos”.

Karina Calandrin levanta ainda outro problema: o que fazer com o Hamas, grupo armado, terrorista e antissemita que não aceita negociar com Israel.

“O Hamas não quer um estado palestino ao lado do estado israelense, e nem aceitaria sentar para negociar com Israel, então como lidar com isso?”, questiona, deixando a resposta no ar.

Fatores 

Os especialistas avaliam que as crises políticas, tanto da liderança palestina, quanto de Israel, atrapalham qualquer possibilidade de negociação.

“Temos uma crise prolongada de liderança palestina, que se revela tanto na fraqueza da Autoridade Palestina, governada há duas décadas por Mahmoud Abbas, quanto na força do Hamas e de outros grupos extremistas, que oferecem uma solução para a questão por meio da violência e do terrorismo”, explica Guilherme Casarões.

Do lado israelense, a fragmentação política e a fragilidade das alianças parlamentares vêm tornando governos reféns de grupos minoritários fundamentalistas, contrários a qualquer negociação com os palestinos, segundo ele.

Depois do ataque, o apoio israelense ao governo do premiê Benjamin Netanyahu despencou.

“Netanyahu trabalhou muito para o enfraquecimento do Fatah, o que fortaleceu o Hamas”, afirma Karina Calandrin.

“Não vejo como Netanyahu poderia construir a paz, seria necessária uma liderança mais moderada, que realmente se importe com o processo de paz, o que ele fez foi empurrar esse problema cada vez mais para frente, até que ele ficasse ‘too big to fail’, ou, no caso, grande demais para ser resolvido”, diz ela.

Na avaliação de Arlene, o principal fator dificultador é o apoio incondicional dos Estados Unidos a Israel.

“Israel já tem um poderio militar que dificulta muito criar qualquer equilíbrio entre as forças, porque uma boa negociação só acontece entre duas partes com poder mais ou menos equilibrado”, diz ela. O envolvimento americano pende essa balança ainda mais para o lado de Israel.

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