Quinta-feira, 28 de março de 2024

A arte combinatória das competências

As tradicionais noções de qualificação profissional, centradas nos modelos taylorista/fordista, não mais oferecem o suporte necessário para o atual ambiente de complexidade e mudanças enfrentado pelas organizações. Nesse quadro, a moderna concepção de competência individual pode significar uma alternativa ao conceito de qualificação profissional, uma vez que sugere melhores possibilidades de dialogar com situações de instabilidade, fluidez e incertezas.

Esse novo conceito de competência assume poder de decisão, influência e participação nas questões estratégicas da empresa, quando se refere à capacidade da pessoa de assumir iniciativas e ir além das atividades prescritas. A incorporação dessa noção mais dinâmica, flexível e estratégica das competências, ao tempo em que esvazia a noção de competência enquanto recurso, reforça as abordagens de “evento”, “competência em ação” e “entrega.” Esses três conceitos, em oposição ao instrumentalismo mecanicista contido nas visões tradicionais, emergem como uma nova moldura que sustenta um maior protagonismo do indivíduo, permitindo que haja ganhos de efetividade na gestão das organizações.

Desponta, nesse contexto, a afirmação de um novo paradigma de competência individual, no qual percebe-se que o papel gerencial adquire maior relevo pois, em última instância, cabe ao gerente executar as ações que traduzem as estratégias corporativas em resultados, mobilizando, para tanto, as competências gerenciais específicas e sintonizadas com o ambiente no qual atua. A partir dessa maior amplitude de abordagem, surgem variadas alternativas para decompor, segmentar, estratificar, categorizar e aprofundar a análise a partir dos elementos constitutivos da competência. Sob essa perspectiva, menos rígida e mais inclusiva, os fatores comportamentais assumem uma importância crescente, atrelados que estão ao interagir com pessoas, comunicar-se, negociar, mobilizar para mudança, à sensibilidade cultural e ao trabalho em times, características de um ambiente de forte interação para a construção colaborativa de soluções. Dado que os saberes se encontram cada vez mais dispersos, inclusive geograficamente, a capacidade combinatória desse conhecimento demanda competências sociais e emocionais bem balanceadas e consistentes.

Desse modo, assumindo o caráter e a importância estratégicos das competências individuais, é também indispensável admitir a necessidade de materializar esse novo significado. Para tanto, torna-se necessário desenvolver um ambiente que incentive e encoraje o desenvolvimento de saberes alinhados com a nova realidade das organizações, sendo preciso conceituá-los também como um entendimento prático de situações que se apoia em conhecimentos adquiridos e os transforma na medida em que aumenta a diversidade das situações. Há, nessa visão, o entendimento de que quanto maior a interação social, mais sólidas e necessárias serão as competências de caráter atitudinais.

Por conseguinte, sendo o gerente o elemento de ligação entre as expectativas organizacionais para a consecução dos resultados de um lado, e, de outro, as competências individuais como um novo elo que alarga as tradicionais noções de qualificação profissional, torna-se possível vislumbrar a valorização das competências em nível gerencial como um modo unificador de se analisar o trabalho dos gerentes. Essa realidade de maior abrangência do conceito de aprendizagem gerencial, mediado pela noção de competência, abre um espaço muito além da sala de aula tradicional. Hoje, ao profissional que compreende o novo momento no qual a moderna aprendizagem se insere, para além das formas tradicionais de ensino, incumbe a difícil tarefa de escolha das opções existentes no vasto cardápio disponibilizado no mundo virtual. Ao mesmo tempo em que se ampliam as opções de aprendizagem, em medida semelhante ganha destaque a necessidade de maior autonomia do indivíduo, e sua capacidade de reger e desenvolver também o seu próprio repertório de competências.

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