Quinta-feira, 28 de março de 2024

Delegado de Polícia com milhões de seguidores nas redes sociais é indiciado por peculato

A Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo indiciou o delegado Carlos Alberto da Cunha, 43 anos, popularmente conhecido como “Da Cunha”, por suspeita de peculato (crime cometido por servidor que, no exercício do cargo, desvia bens públicos em benefício próprio ou de terceiros). Ele foi afastado temporariamente e, se condenado, a sentença é de dois a 12 anos de prisão, mais multa.

De acordo com os responsáveis pela investigação, o policial utilizou a estrutura da corporação para gravar vídeos de operações oficiais que foram exibidos nas redes sociais particulares dele, assim como no site de vídeos youtube.com. Ele conseguiu alavancar mais de 3,6 milhões de inscritos em seu canal.

Fontes ligadas ao caso revelam que a Corregedoria teria obtido documentos e depoimentos (inclusive de colegas de Cunha) comprovando que Cunha obteve vantagens pessoais e econômicas com os vídeos – o que por si só já configuraria o crime. Ele também é suspeito de forjar operações exibidas na internet.

“Da Cunha” também é alvo de inquérito por parte do Ministério Público (MP), que apura possível enriquecimento ilícito. Para os promotores, o uso da estrutura estatal para proveito pessoal pode configurar improbidade administrativa.

O delegado nega enriquecimento ilícito e sugere não ter dinheiro nem para pagar algumas contas: “Até o meu IPVA [Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores] está atrasado”.

Com o indiciamento na Polícia Civil, ele passa a ser considerado formalmente suspeito de um crime. O relatório final deve ser encaminhado para o MP, que pode pedir mais investigações, denunciar o policial à Justiça ou pedir o arquivamento do caso, se considerar que não há crime.

Fraude

Outros policiais civis delataram irregularidades praticadas por Da Cunha para obter vídeos de repercussão, tais como simular ou inventar prisões. Ele não nega, mas a alegação é de que buscava “ajudar na produção de provas”.

Em um dos casos, ele chegou a devolver uma vítima de sequestro ao cativeiro, junto com o sequestrador, apenas para que a ação fosse filmada, como se tivesse sido Da Cunha o responsável pela prisão do criminoso.

Também inventou a prisão de um líder da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), chamado “Jagunço do Savoy” e que teria a ordem para matar um chefe da Polícia Civil. Na verdade, ele pegou um criminoso comum e que tinha um apelido semelhante, mas sem qualquer ligação com Savoy.

Defesa

Em entrevistas à imprensa, o delegado afastado tem rebatido as acusações. “Trata-se de mais uma acusação infundada e sem qualquer cabimento. Estou sendo acusado por conta da monetização do meu canal do Youtube”, declarou ao jornal “Folha de São Paulo”.

Disse, ainda, que ocaso nada tem a ver com dinheiro público. “Mais uma vez, os veículos de comunicação estão utilizando informações sigilosas, que sequer foram apuradas, com o único viés de atingir a minha imagem”.

Ainda não se sabe quanto dinheiro o delegado conseguiu desde o início de 2020, quando passou a ser importante na internet. Considera-se, porém, que o salário na polícia seria insuficiente para manter um padrão de vida que inclui pagamento de aluguéis de imóveis de alto padrão, plano de saúde, funcionários e outras despesas.

Tratava-se de empresa de segurança que era dele mesmo, em sociedade com outra pessoa. Após a reportagem, ele deixou formalmente a sociedade.

Após esse afastamento, Da Cunha passou a atacar o governador João Doria (PSDB) e o delegado-geral Ruy Ferraz Fontes, em suas transmissões ao vivo pelas redes. Ele também pediu licença sem vencimentos da polícia e filiou-se ao MDB. Diz que pretende disputar um cargo eletivo em 2022, “de preferência, para governador”.

(Marcello Campos)

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