Quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Em Pernambuco, Lula mira evangélicos em discurso com menções a Deus, fé e milagres

De volta a Pernambuco, seu Estado natal, para a inauguração de uma estação de água e adutora, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demonstrou estar empenhado em ajustar seu discurso político para atingir um segmento específico do eleitorado, o evangélico. Diante de uma plateia de apoiadores, Lula relacionou a obra a Deus e tratou a entrega do sistema de água como “um milagre da fé”.

Ao todo, em menos de 30 minutos de discurso, o presidente repetiu 16 vezes a palavra “milagre”, fez 11 menções a “Deus”, citou cinco vezes o vocábulo “fé” e repetiu em duas oportunidades o termo “crença”.

As diversas menções ao “homem lá de cima” – outra expressão usada por ele – coincidem com o resultado de pesquisas recentes de opinião. Os levantamentos mostram que a aprovação do governo Lula caiu principalmente entre os eleitores neopentecostais.

Além disso, nos últimos dias, o governo lançou um novo slogan para entregas de obras: “Fé no Brasil”, mote criado pela Secretaria de Comunicação Social (Secom).

No evento, Lula disse que não iria ler um discurso escrito, mas demonstrou ter entendido a necessidade de se comunicar com o segmento cristão. Logo no início de sua fala, Lula perguntou se os apoiadores acreditavam em Deus e em milagres.

“Queria perguntar se vocês acreditam em Deus, se acreditam em milagre? Então vou contar dois milagres para vocês que estão acontecendo agora”, disse. Em seguida, o presidente passou a lembrar da sua infância, em Pernambuco, quando ele tinha de buscar água em açude para beber.

“A obsessão que eu tenho pelo Nordeste e em levar a água para o Nordeste é porque, quando eu tinha 12 anos de idade, eu tinha que buscar água em açude, uma água barrenta. Tinha que deixar a água assentar, a gente não tinha filtro, não tinha cultura de ferver a água. Tinha muita gente que morria de esquistossomose na época”, disse.

Ao fazer esse paralelo, o presidente repetiu por diversas vezes que ele chegou à Presidência para ajudar a realizar um “milagre”. “O primeiro milagre que a gente está vivendo hoje aqui é porque ninguém acreditava que seria possível fazer a transposição [de água] que estamos fazendo hoje aqui. Esse é um milagre com um cara que viveu a seca. Eu saí daqui para não morrer de sede e volto agora para fazer a transposição [do Rio São Francisco]. Isso só pode acontecer por causa da fé de vocês, da crença de vocês”, defendeu.

“Se vocês não tivessem fé, jamais vocês teriam votado num pernambucano para a Presidência da República. Foi um ato de fé, um ato de coragem, esse foi o primeiro milagre”, complementou.

Segundo milagre

Seguindo esse raciocínio, Lula deu a entender que Deus teria escolhido “um nordestino” para resolver o problema da escassez de água na região. “Tudo que é feito para o pobre eles falam que é gasto, quando é feito para o rico, eles falam que é investimento. O homem lá de cima falou que ia ajudar os nordestinos através de um nordestino”, contou.

Lula citou um “segundo milagre”. “O outro milagre que estamos tentando fazer é que as pessoas tenham acesso a ensino de qualidade”, citou. “Eu resolvi investir na educação e, com a graça de Deus, com o milagre da fé, eu sou o presidente que mais fez universidades e escolas técnicas nesse país”, repetiu.

“Esse país ficou 400 anos sem universidade porque a elite brasileira mandava seus filhos estudar em Paris, Londres, enquanto que o povo brasileiro ficava cortando cana, sem perspectiva de vida. Dependendo do berço que a pessoa nascesse, a gente sabia: esse vai ser doutor, esse vai ser peão”, acrescentou.

Por fim, Lula voltou a defender o governo existe para dar oportunidade aos mais pobres, mas voltou a citar “Deus”. “A gente pode ser o que a gente quiser, é só o governo dá oportunidade. A gente não fez opção para ser pobre, a gente não quer ganhar mal, estudar mal, a gente nasceu para querer todas as coisas boas que Deus deu. Pode ter certeza que esse milagre será completo”, concluiu.

O evento foi a inauguração da Estação Elevatória de Água Bruta (EEAB) de Ipojuca e do trecho Belo Jardim – Caruaru da Adutora do Agreste de Pernambuco, no município de Arcoverde.

Com esta nova estação, nove municípios do agreste pernambucano passam a ter abastecimento regular de água, atendendo a aproximadamente 615 mil pessoas. Segundo o governo, quando o sistema for finalizado, serão 1.400 km de adutoras que levarão 4 mil litros por segundo de água da transposição do Rio São Francisco para abastecimento da região.

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