Sábado, 20 de abril de 2024

Extinção das abelhas pode definir o futuro da alimentação

Apesar de ser o mel a primeira coisa que vem à cabeça quando pensamos em abelhas, na realidade, ele não é a maior contribuição desses insetos para a nossa alimentação. O café, a maçã, o maracujá e até a soja são beneficiados pelas polinizadoras.

Existem também outros estereótipos sobre esses animais. Já assistiu ao filme “Bee Movie – A História de uma Abelha”? Na vida real, a estrutura da colmeia não é como a retratada. Para começar, quem faz todo o trabalho nessa “sociedade” são as fêmeas. Elas coletam o néctar, o pólen e produzem o mel.

Cabe aos machos, conhecidos como zangões, apenas copular com a abelha rainha para a reprodução, explica Diego Moure, pesquisador sênior da AgroBee.

As abelhas mostradas no filme são de uma espécie que não é majoritária no Brasil, a Apis Mellifera. No país, as abelhas solitárias, que não formam colônias, são mais numerosas. Elas também não produzem tanto mel, pois isso dependeria da agrupação e formação de colmeias.

Independente de a qual espécie pertencem, as abelhas são muito importantes para a produção de alimentos. Alguns agricultores buscam alugar colmeias para atraí-las para a lavoura. Um outro caminho é a preservação da mata nativa da região.

Não é tudo mel

Metade das plantas com flores depende completamente de polinizadores para sobreviver, apontou um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Stellenbosch, na África do Sul. São cerca de 1.750 espécies de todos os continentes. Desta categoria, as abelhas são protagonistas.

Elas são responsáveis por até 80% das plantas cultivadas presentes na nossa alimentação, apontou a pesquisa da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES, sigla em inglês) e da Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador (REBIPP).

Para alguns plantios, como o maracujá, elas são essenciais. Para outros, como o café, elas proporcionam aumento da qualidade, com melhor sabor e nutrientes, e da produtividade, explica Márcia Maués, pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Amazônia Oriental.

Quanto mais fertilizado é um fruto, melhor o seu desenvolvimento, gerando, por exemplo, uma maçã maior. As abelhas fazem essa fertilização quando vão coletar o pólen

Existem 2 ganhos ao usar abelhas nas lavouras: o direto, que é a melhora do produto oferecido; o indireto, quando outros setores agrícolas são beneficiados, como a pecuária, devido à qualidade da soja usada na ração.

Por causa disso, existe um movimento para que estes insetos sejam reconhecidos como um insumo agrícola, assim como os pesticidas e fertilizantes são, aponta Márcia.

Alugando abelhas

Uma das formas de atrair abelhas para a plantação é realizando o aluguel de colmeias. Contudo, para isso, é importante saber quais abelhas fertilizam o cultivo específico.

Como estes insetos que se agrupam são da família Apis Mellifera, que não é nativa do Brasil, eles só conseguem fecundar flores que também são exóticas, como a soja e a maçã, explica Márcia.

A ideia do aluguel é conectar apicultores e produtores. Então, o agricultor paga o criador para enviar colmeias para a sua lavoura durante o período de floração. Depois, as abelhas voltam para o apicultor.

No cultivo da soja, por exemplo, as polinizadoras ficam por mais de 20 dias e o custo de cada colmeia pode sair até R$ 80, informa Diego Moure da AgroBee.

Este trâmite precisa ser feito com extrema segurança para não machucar a abelha e a estrutura da colmeia, relata Katia Aleixo, bióloga consultora da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.)

Para participar do setor de aluguéis, os agricultores precisam estar cadastrados na defesa agropecuária dos seus estados. Em cada movimentação de colmeia, é necessário fazer a emissão do Guia de Trânsito Animal (GTA), para atestar que elas estão adequadas para serem transportadas de um lugar para outro.

Entre os motivos para a possível extinção das abelhas, segundo Katia, estão: as mudanças climáticas, que alteram os períodos de chuva e floração das plantas; o desmatamento, queimadas e expansão das cidades, que diminuem o habitat natural desses animais; a disseminação de doenças e espécies invasoras; e o uso incorreto de defensivos agrícolas.

Sem abelhas, sem comida?

Apesar de ser muito comum vermos nas redes sociais que se as abelhas forem extintas não conseguiremos plantar alimentos, isso é um mito. O que haverá é uma drástica diminuição na oferta e na qualidade dos cultivos, explicam as especialistas.

A bióloga Katia afirma que plantações como o arroz, o trigo e a cana-de-açúcar são polinizadas pelo próprio vento, por isso, continuariam existindo mesmo em um universo sem abelhas. Contudo, a acerola, a maçã, o café, por exemplo, poderiam ser extintos.

“Tem plantas que não produzem nada sem polinização.O açaí, uma palmeira que ocorre nas margens do rio e vem sendo cultivada em terra firme por meio de cultivares, é visitado por mais de 200 espécies de insetos”, conta Márcia.

E apesar de a ficção apresentar abelhas robóticas que seriam capazes de realizar esse processo, a pesquisadora não acredita que isso se aplicaria na realidade.

“Não dá para substituir as abelhas. Você tem os formatos das flores, na maioria das plantas varia bastante. A castanheira, por exemplo, tem uma flor que é fechada, os recursos florais protegidos”, diz.

Isso porque as flores e as abelhas foram evoluindo conjuntamente ao longo dos anos, se tornaram proporcionais.

Há também a possibilidade do próprio agricultor fazer a polinização colocando o próprio dedo nas flores, como ocorre com o maracujá. Mas, a pesquisadora da Embrapa explica que isso leva o triplo do tempo, sendo apenas um amenizador e não um substituto.

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