Quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

“Greve branca” na Polícia Federal afeta andamento de investigações sobre Bolsonaro

A pressão da Polícia Federal (PF) sobre o governo federal em busca de uma reestruturação salarial está afetando o andamento de investigações importantes na corporação, incluindo inquéritos relacionados ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Fontes de dentro da corporação informaram que gestores estão demorando a designar agentes para as equipes de perícia e análise.

A “greve branca” estaria causando atrasos significativos, afetando, por exemplo, a verificação da delação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, e a análise dos celulares do ex-presidente, que fazem parte do inquérito que investiga a fraude nos cartões de vacinação do ex-presidente e aliados.

As duas investigações fazem parte dos 21 inquéritos que têm Bolsonaro como alvo, que foram abertos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pela PF.

Pessoas com influência nos sindicatos afirmaram que as lideranças recomendaram a redução do ritmo de trabalho como uma maneira de expressar o descontentamento com o que classificam como falta de atenção do governo em relação à aprovação da reestruturação.

Impasse

Após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, a cúpula da Polícia Federal costurou um acordo, com o aval do Ministério da Justiça, que estabelece aumentos salariais de 37% a 79%, dependendo da função. No entanto, o projeto está atualmente paralisado no Ministério da Gestão, sob a responsabilidade de Esther Dweck.

O clima interno na PF é o pior desde a posse de Lula. O estopim para o desconforto foi o cancelamento de uma reunião da mesa de negociação formada pelo governo que deveria ter acontecido por telefone no último dia 17. A categoria teme que a demora deixe a reestruturação salarial de fora da previsão orçamentária de 2024.

Desgaste

A PF já teve desgaste semelhante no governo Bolsonaro, quando as entidades sindicais começaram a pedir o reajuste. O presidente chegou a firmar um compromisso com a corporação, mas o descumpriu. Na época, a Associação de Delegados da Polícia Federal (ADPF) acusou o então presidente de “descaso, desprestígio e desvalorização” da categoria.

“Dessa vez o cenário é completamente diferente”, disse um sindicalista que participa das negociações, pedindo reserva. “Não foi uma proposta sindical encaminhada ao governo, e sim uma proposta do Ministério da Justiça, gestada própria Polícia Federal com a anuência das entidades representativas”.

“Desmarcar essa reunião sem o indicativo de um segundo encontro foi, inclusive, uma descortesia com o Ministério da Justiça”, completou a fonte.

Defasagem salarial

A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) afirmou, em nota, que a defasagem salarial nos últimos anos chega a 51%, sem contabilizar o reajuste de 9% concedido por Lula a todos os servidores federais neste ano. Nos cálculos da entidade, o aumento do funcionalismo recompôs apenas o aumento da alíquota previdenciária imposto pela reforma da previdência, de 5%.

Além do desgaste junto à PF, o impasse nas negociações também reflete a dificuldade do governo Lula para viabilizar a meta do déficit zero encampada pelo Ministério da Fazenda e equilibrar as demandas de diferentes setores.

A indefinição quanto ao orçamento de 2024 é um dos principais motivos do atraso na tramitação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que deveria ter sido aprovada até julho, e, por consequência, da LOA.

O fato de nem mesmo um projeto apadrinhado por um dos ministros mais poderosos do governo, Flávio Dino, e por um aliado de confiança, Andrei Passos, ter garantias de sinal verde dá a dimensão da cama de gato orçamentária em que o governo se enfiou.

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