Sexta-feira, 04 de outubro de 2024

Metralhadoras furtadas do Exército são encontradas no interior de São Paulo escondidas em lamaçal

Nove das 21 armas que foram furtadas por militares, em setembro, de um quartel do Exército em Barueri, Grande São Paulo, foram encontradas pela Polícia Civil escondidas num lamaçal numa área de mata em São Roque, interior paulista.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo, todo o armamento furtado seria encaminhado e vendido para facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), que atua principalmente no estado de São Paulo, e o Comando Vermelho (CV), no Rio de Janeiro.

Foram recuperadas nesta sexta em São Roque cinco metralhadoras calibre .50 e de quatro metralhadoras calibre 7,62. O Exército foi chamado e reconheceu o armamento pelo número de registro.

“Elas [as metralhadoras] tinham endereço certo. A informação que se tem é que tanto Comando Vermelho quanto PCC seriam os destinatários finais desse armamento”, disse Guilherme Derrite, secretário da Segurança Pública (SSP) de São Paulo durante coletiva de imprensa em um evento na capital.

Por meio de nota, o Exército informou que as nove armas foram recuperadas numa ação conjunta com com a Polícia Civil de São Paulo.

“O Comando Militar do Sudeste informa que na madrugada do dia 21 de outubro foram recuperadas mais 9 (nove) metralhadoras, sendo 5 (cinco) calibre .50 e 4 (quatro) calibre 7,62 (totalizando 17 armamentos), fruto de uma ação integrada do Exército Brasileiro com a Polícia Civil do Estado de São Paulo. Todos os esforços estão sendo envidados para a recuperação total dos armamentos subtraídos”, informa comunicado enviado à imprensa pela assessoria do CMSE.

Troca de tiros

As armas foram encontradas pelo 1º Distrito Policial (DP) de Carapicuíba, na região metropolitana. Segundo a polícia, seus agentes investigavam uma quadrilha e o serviço de inteligência deles teve informações de que criminosos fariam o transporte de armas em São Roque. Então foram para lá.

O delegado Marcelo Prado, da Seccional de Carapicuíba, disse que houve troca de tiros com pelo menos dois criminosos que estavam no local, fugiram e são procurados. Eles iriam levar as armas para um veículo. Uma viatura policial foi atingida pelos disparos, mas ninguém ficou ferido. Depois encontraram as armas na lama do terreno.

“As armas são muito pesadas e de difícil locomoção. Então elas estavam escondidas lá. E os indivíduos que estavam lá iam carregar um veículo com as armas. Só que nós chegamos antes. E ai achamos o local dessa forma. Aí eles fugiram e localizamos as armas, todas ali dentro desse alagadiço ali. Cinco .50 e quatro metralhadoras 7,62”, disse o delegado. “Isso. Escondidas ali. Dentro da lama, molhadas. Nós tivemos que limpar as armas, inclusive. Que estavam todas sujas de barro.”

Mais oito armas (quatro .50 e outras quatro 7,62) já tinham sido localizadas na última quinta-feira (19) pela Polícia Civil no Rio de Janeiro, abandonadas dentro de um veículo. Nenhum suspeito foi preso. A suspeita é de que elas seriam usadas por facções criminosas, como o Comando Vermelho. Das 17 metralhadoras recuperadas, outras quatro (todas calibre .50) continuam desaparecidas e são procuradas pelas autoridades.

Entenda o caso

O furto de 13 metralhadoras calibre .50 e de oito metralhadoras calibre 7,62 do Arsenal de Guerra São Paulo (AGSP), em Barueri, só foi verificado pelo Exército no último dia 10 de outubro após uma inspeção. A suspeita é de que as armas sumiram perto do feriado de 7 de Setembro.

Segundo o Instituto Sou da Paz, esse foi o maior desvio de armas da história do Exército brasileiro desde 2009, quando sete fuzis foram roubados e depois recuperados pela polícia de um batalhão em Caçapava, interior de São Paulo.

Desde então, o Comando Militar do Sudeste (CMSE) do Exército passou a investigar internamente e sozinho o desaparecimento delas e impediu a saída da tropa do quartel. Inicialmente, cerca de 480 militares foram impedidos de irem para casa e tiveram seus celulares confiscados. Mas 320 foram liberados e até este final de semana, 160 continuavam “aquartelados”.

O Exército constatou ainda que mais de três militares participaram do crime. Eles foram identificados, mas não tiveram seus nomes e patentes divulgados. Todos responderão a processo interno e poderão ser presos e expulsos da instituição. A suspeita é de que eles foram cooptados por facções interessadas em comprar as metralhadoras para usarem em ações criminosas.

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