Sexta-feira, 29 de março de 2024

Militâncias virtuais pró-Bolsonaro e Lula representam mais de 90% do debate eleitoral no Facebook

A menos de um ano das eleições, os pré-candidatos da chamada “terceira via” não são capazes de formar redes próprias de mobilização no Facebook, maior plataforma digital em operação no País. É o que revela um levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP/FGV).

A análise aponta que o debate sobre possíveis presidenciáveis na rede social, por enquanto, consolida a polarização entre as candidaturas do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Lula.

O relatório considerou 450 mil postagens em mais de 30 mil páginas e grupos públicos do Facebook publicadas em setembro. As redes pró-Bolsonaro e pró-Lula somaram mais de 90% das interações (curtidas, comentários e compartilhamentos) registradas e reuniram 76% dos perfis que participaram do debate. Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) aparecem como atores coadjuvantes na oposição à esquerda, dominada por Lula.

Os pré-candidatos do PSDB, João Doria e Eduardo Leite, não integram nenhum dos principais conjuntos formados. Apesar disso, se deslocaram da rede principal e formaram pequenos grupos de apoio. Já o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta integra um grupo formado por organizações sociais que fazem oposição ao governo Bolsonaro e à esquerda, como Vem Pra Rua. Essa rede somou pouco mais de 3% das interações no período.

A formação de redes aponta para maior capacidade de mobilização da militância. O diretor da DAPP/FGV Marco Aurélio Ruediger explica que o engajamento desse grupo é estratégico ao amplificar conteúdos de um determinado político quando consegue atingir eleitores que não são convertidos. Uma das principais barreiras para o crescimento da chamada terceira via nas redes, na avaliação do pesquisador, é o fato de o campo, hoje fragmentado, reunir diferentes visões de mundo sem conseguir unidade.

“Não há um eixo propositivo que unifique a militância. O centro está diluído, não existe organicamente. Também não existe um programa”, conclui Ruediger.

Coordenador do “Derrubando Muros”, o sociólogo José César Martins avalia que o fato de não se identificar nenhum nome do espectro da centro-direita e centro-esquerda “magnetizador nas redes” é “natural”. O movimento é formado por 110 empresários, investidores, banqueiros, políticos e intelectuais e tem, entre seus objetivos, a busca por articular uma terceira via para as eleições.

“Esse espaço vai ser redesenhado à medida que se consolidem as candidaturas ao centro”, destaca.

Estratégias

Martins avalia que as redes costumam reverberar mais posições polarizadas, o que passa pelo modelo de negócio dessas plataformas, pautado na necessidade de que os usuários permaneçam mais tempo online para a coleta de dados direcionados à publicidade. O coordenador do movimento defende que o campo deve se adaptar:

“Se estamos falando de uma posição mais moderada e de centro, é preciso transformar esses atributos em coisas que façam sentido na vida das pessoas. Não adianta associar o centro ao equilíbrio fiscal. Os temas que hoje estão afetando a vida das pessoas têm que ser o que a gente carrega. As agendas que estão no nosso espectro trazem esperança e resgatam o sonho. É essa a disputa que o centro tem que trazer diante de uma esquerda que está atrasada, presa ao século XX, e de uma direita com agenda distópica.”

A preocupação em ampliar o espaço da terceira via nas redes tem gerado mudanças de estratégia. Um dos casos mais emblemáticos é o de Ciro Gomes. Nos últimos meses, o pedetista, que vinha marcando sua posição anti-Bolsonaro, subiu o tom em relação ao PT e ao ex-presidente Lula. O episódio mais recente foi a troca de farpas com a ex-presidente Dilma Rousseff. A retórica se intensificou após o marqueteiro João Santana assumir sua comunicação, em abril. Presidente do PDT, Carlos Lupi diz que os ataques são necessários:

“Não existe outra maneira de furar essa bolha a não ser atacando os dois lados. É claro que existe risco, mas não temos outra opção. A entrada do João Santana melhorou a imagem do Ciro, as falas,e estamos crescendo nas redes.”

No caso de Doria, a vacinação está no centro de sua mudança de comunicação nos últimos meses. Nas redes, o ex-governador apostou no “João vacinador” e passou a responder opositores com humor. Já seu rival nas prévias do PSDB, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, entrou em julho para o TikTok, rede usada principalmente pelos mais jovens, e tem compartilhado imagens dos bastidores no governo gaúcho e de sua vida pessoal.

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