Terça-feira, 16 de abril de 2024

“Não se vacine”: mensagem irônica em caminhão funerário promove imunização contra o coronavírus nos Estados Unidos

Quem foi assistir ao jogo do Carolina Panthers contra New Orleans Saints no Centro de Charlotte, nos Estados Unidos, no último domingo (19), se deparou com uma mensagem inusitada em um caminhão que percorria as ruas da cidade. Com a frase “Não se vacine” estampada na lateral junto à marca e ao site da funerária “Wilmore Funeral Home”, o veículo se tornou alvo de polêmica e dividiu opiniões nas redes sociais.

Por um lado, houve quem acreditasse que a campanha foi uma boa ideia para estimular a vacinação. “Todos sabem que adoro uma boa tática de marketing, essa é uma boa”, disse a estudante Katie Guenther no Twitter. Já Lisa Gearries, embora imunizada, não achou a propaganda de bom tom: “Estou vacinada, mas esta é claramente a coisa mais estúpida que já vi”, postou em sua conta na mesma rede social.

No entanto, quem acessou o site que vinha junto à mensagem no caminhão descobriu que o estabelecimento “Wilmore Funeral Home” não existe. Na verdade, o endereço da web levava os usuários a uma página em que dizia “Vacine-se agora. Se não, nos vemos em breve” com um link para um outro site de uma empresa de saúde chamada StarMed que detalhava os registros das vacinas disponíveis nos EUA.

Ainda assim, o verdadeiro dono por trás da brincadeira continuava oculto, até terça-feira (21). Uma agência de publicidade local chamada BooneOakley revelou em sua conta no Twitter que eles foram os responsáveis pela campanha.

Ao jornal The Washington Post, o presidente da empresa, David Oakley, contou que os funcionários da agência idealizaram a funerária fictícia enquanto conversavam sobre quem se beneficia com o adoecimento e a morte de pessoas não vacinadas contra a covid-19.

“Sentimos que, pessoalmente, esta era uma causa na qual acreditávamos e deveríamos usar nossos recursos para o bem comum”, disse Oakley, e acrescentou: “Se isso faz com que uma pessoa mude de ideia, vale a pena cada centavo.”

Especialistas criticam

A propaganda, porém, não agradou alguns especialistas na área de comunicação em saúde. A professora da Universidade Estadual da Carolina do Norte Stacy Wood, que estuda a campanha publicitária da vacina contra a covid-19, disse ao jornal acreditar que a ideia da BooneOakley promovia uma pressão muito alta para mudar a mente de uma pessoa não vacinada, e corria o risco de reforçar a posição deles.

“Ao estudar como as pessoas fazem escolhas, os profissionais de marketing descobriram que, quando as pessoas se sentem pressionadas a fazer uma escolha em particular, e essa pressão é suficiente, isso as faz sentir que sua real liberdade de escolha está sendo afetada. Posso entender que a brincadeira do caminhão funerário falso foi adotada pelas pessoas vacinadas como o alívio do humor em uma situação tensa. É uma piada eficaz, mas não um marketing eficaz”, afirmou ao The Washington Post.

A opinião é compartilhada pelo especialista em comunicação de saúde da City University of New York, Scott Ratzan, que entrevistou pessoas hesitantes com a vacina em todo o país:

“Esse tipo de medo não comove as pessoas quando elas sabem que há pessoas que pegaram covid e não morreram.”

Piora

A campanha vem em um momento em que a vacinação avança de forma lenta no país, apesar da alta disponibilidade de doses. Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), cerca de 36% dos americanos com mais de 12 anos ainda não foram totalmente vacinados.

Nesta semana, o país ultrapassou os 676 mil mortos em decorrência da covid-19, um número maior que os óbitos relacionados à pandemia da gripe espanhola, no século passado.

Apesar de ter conseguido controlar a pandemia no primeiro semestre graças à vacinação, os Estados Unidos enfrentam mais de dois meses de alta nos números da doença, e o percentual de imunizados avança lentamente depois de um início acelerado. Hoje, o país tem 63% da população geral vacinada com a primeira dose, apenas 54% com o esquema vacinal completo e pouca procura pelos imunizantes.

O ritmo de doses aplicadas por dia no país atingiu seu pico em abril, quando chegou a mais de três milhões de aplicações diárias. Desde então, essa média caiu, e chegou a pouco mais de 500 mil doses em julho. Com o agravamento da pandemia nos Estados Unidos, a taxa de vacinação voltou a subir, mas hoje continua baixa: cerca de 772 mil doses são aplicadas por dia no país.

Essa piora na situação epidemiológica, motivada pela chegada da variante delta ao país, levou os Estados Unidos, que tinham alcançado uma média móvel de cerca de 220 óbitos por dia, no início de julho, a contabilizarem hoje cerca de 2 mil mortes diárias.

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