Domingo, 19 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 25 de setembro de 2023
Os jovens brasileiros, entre 15 e 29 anos, representam um quarto da população total do nosso país e quase 70% deles, dois em cada três, são de baixa renda. Somente 33% estudam atualmente e, desses, um terço está em atraso escolar. A defasagem é maior entre os jovens que não trabalham.
Os dados são de uma pesquisa feita pelo Observatório Sistema Federação das Indústrias do Paraná (Sistema Fiep), que traça um raio x completo deste público no território nacional.
O objetivo do estudo foi entender o comportamento da juventude brasileira de baixa renda.
Metodologia
O estudo avaliou jovens de 15 a 29 anos no período de 2012 a 2022, com renda de até meio salário-mínimo per capita ou renda familiar mensal de até três salários-mínimos. Foram três eixos de análise: escolaridade, empregabilidade e conectividade, com recortes que consideram renda, gênero, raça e localização geográfica. A pesquisa contempla ainda uma abordagem sobre o impacto da pandemia da covid.
Segundo a gerente executiva do Observatório Sistema Fiep, Marília de Souza, a metodologia traz dados quantitativos da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos últimos dez anos, e muitas horas de trabalho dos pesquisadores. “Analisamos muitas publicações de referência dos últimos 15 anos, além de estudos feitos pelos Senai nos últimos sete anos. No total, são 112 fontes de referência utilizadas nessa pesquisa, além de trabalho de campo”, destaca.
Cenário e resultados
Ao longo dos anos 2000, o Brasil passou por um ciclo de políticas públicas focadas nas demandas da juventude de baixa renda. Mas, em 2020, quando a pandemia começou, a população foi extremamente impactada, sobretudo a mais pobre, com menos acesso à educação, ao trabalho e à inclusão digital.
Entre as conclusões, a pesquisa revela o perfil socioeconômico, educacional, digital (como está inserida e conectada com o mundo) e o trabalho (ocupação) da juventude brasileira de baixa renda. Também elenca os principais desafios para eles nessas áreas. Por último, faz uma análise completa de políticas públicas recentes e seu impacto na população, além de trazer as repercussões da pandemia.
Ensino e trabalho
Na área de Educação, os resultados apontaram que os jovens de baixa renda estudam pouco mais de 10 anos e, a maioria que estuda atualmente, 54%, tem entre 15 e 17 anos. Outros 39% têm entre 18 e 24 anos, e 10% estão entre 24 e 29 anos. Mais da metade do total, 53%, ainda cursa o Ensino Médio, 15% ainda não concluíram o Fundamental e só 28% estão no Ensino Superior. Esse indicador entre jovens de outras classes chega a 38%. O Paraná é o estado da federação com maior percentual de estudantes de baixa renda cursando a graduação, 40%.
Em relação à defasagem escolar, 33% estão com atraso no Ensino Médio. Desses, 23% estão desempregados e 10% exercem uma atividade profissional. “Uma das conclusões é que a juventude brasileira precisa conciliar estudo e trabalho para poder concluir as etapas. E há um ambiente de instabilidade escolar no Brasil e distorções entre idade dos estudantes e a série que estão cursando”, avalia Raquel Valença, gerente de estudos, pesquisas e tendências do Observatório.
Ela ressalta que há um campo fértil para a evasão escolar, diante das dificuldades que esse público enfrenta. “Cursar o Ensino Médio ainda é visto com muitos obstáculos pelos jovens. E o Ensino Superior, ainda é bem restrito. A boa notícia é a Educação Profissional, que eles enxergam como bem valorizada no país”, complementa.
Em relação ao jovem de baixa renda em atividades profissionais, a pesquisa revelou que 36% só trabalham. Outros 33% estudam, sendo 8% exercendo as duas funções e 25% só estudando, sem função profissional. O que preocupa neste quesito é que é expressivo o índice de pessoas que não estudam e não trabalham, em torno de 31%.
“O emprego ainda é visto como como prioridade à subsistência, ou seja, fundamental para que possam se manter. A juventude brasileira considera difícil a inserção no mercado de trabalho e entende que muitas oportunidades são oferecidas em condições precárias, a maioria na modalidade informal (sem registro em carteira e direitos garantidos) e com taxa de rotatividade alta”, diz.
Uma das conclusões da pesquisa é de que a juventude de baixa renda divide seu tempo entre estudo e trabalho e por isso encontra mais dificuldades para concluir o Ensino Médio. “Eles precisam focar no trabalho para sua própria subsistência. Também a instabilidade escolar é um entrave. O acesso à educação é prioritariamente um meio para a empregabilidade e a urgência de estar no mercado de trabalho faz com que a evasão escolar esteja sempre à espreita”, resume Raquel.
O levantamento do Observatório Sistema Fiep verificou ainda que a “geração neno” – jovens que não estudam, nem estão ocupados – está em expansão no Brasil, o que é preocupante. Mesmo assim, os jovens são otimistas e enxergam o emprego ideal em perspectiva.