Quinta-feira, 05 de dezembro de 2024

O iFood tentou barrar a organização dos entregadores de aplicativos por meio de táticas de propaganda típicas de campanhas políticas

O iFood tentou barrar a organização dos entregadores de aplicativos por meio de táticas de propaganda típicas de campanhas políticas, como criação de perfis falsos para difamar adversários em redes sociais. As informações foram publicadas pela Agência Pública, que diz ter consultado documentos confidenciais e entrevistado pessoas das agências de publicidade envolvidas com o material – por questões de segurança, os nomes foram omitidos, diz o veículo.

Páginas como Não Breca meu Trampo e Garfo na Caveira teriam sido criadas e mantidas por agências de publicidade digital com intuito de desmobilizar os grevistas, que, desde julho de 2020, pediam melhores condições de trabalho. Quem contratou o serviço foi o iFood, relataram funcionários das empresas Benjamin Comunicação e Social Qi.

As páginas atuaram com uma técnica batizada de “Lado B” (ou marketing 4.0), pela qual perfis falsos administrados por profissionais alimentam as redes com conteúdo a respeito de um tema, geralmente utilizando a mesma linguagem do público-alvo. No caso de campanhas políticas, é comum fabricar memes para atacar adversários, sem citar o próprio candidato. No episódio que envolveria o iFood, as agências tentavam desmobilizar a greve ao acusar o movimento de “politicagem”.

A greve dos aplicativos, também conhecida Breque dos Apps, envolveu entregadores de aplicativos como iFood, Rappi e UberEats, entre outros. A primeira paralisação aconteceu em 2020, quando os entregadores notaram a demanda por pedidos crescer acentuadamente em meio à pandemia. Após as primeiras greves, segundo a Pública, o iFood e as páginas na internet mantidas pelas agência de publicidade teriam feito oposição a projetos de lei que tentavam regulamentar o trabalho dos entregadores.

O que diz o iFood

À Pública, o iFood nega qualquer conhecimento dos documentos citados na reportagem nem que tenha trabalhado com a agência SocialQi, mas afirma que contratou serviços de monitoramento digital da Benjamin Comunicações. Ainda, esclarece que não contratou perfis falsos: “A atuação do iFood nas redes sociais se dá estritamente dentro da legalidade.”

Ao Estadão, o iFood defende o direito de os grevistas de se manifestarem e afirmou que se compromete com a investigação do caso.

“A respeito da matéria da Agência Pública informamos que apenas tivemos acesso aos dados citados a partir da sua publicação nesta segunda-feira. O iFood reafirma que suas comunicações institucionais são realizadas apenas por seus canais oficiais, e que não compactua com geração de informações falsas, automação de publicações por uso de robôs ou compra de seguidores.

Nosso maior compromisso é fazer com que o iFood seja a plataforma de escolha dos entregadores para gerar renda para si e suas famílias. Respeitamos o direito de realização de protestos e greves, mantemos diálogo aberto e constante com eles para buscar melhorias para todo o nosso ecossistema, e não bloqueamos ou de qualquer outra forma penalizamos entregadores que participam de manifestações.

Como medidas, o iFood se compromete a apurar todas as informações mencionadas na reportagem e atuar de forma a garantir o respeito ao seu Código de Conduta e Ética.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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