Sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Os três momentos em que ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal foi acusado de mentir

Primeira testemunha a depor na CPI do 8 de Janeiro, o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques foi acusado de mentir durante a sessão de terça-feira (20) e teve a prisão pedida por parlamentares de esquerda. O Código Penal prevê a detenção em flagrante de depoentes que dão falso testemunho em comissões de inquérito.

Acompanhado de dois advogados e apoiado pelos senadores e deputados da oposição, Vasques retificou algumas de suas declarações, mas negou ter faltado com a verdade. O presidente do colegiado, deputado Arthur Maia (União-BA), entendeu que não havia fundamento para decretar a prisão dele.

Confira os momentos em que Silvinei foi acusado de falso testemunho:

Efetivo no Nordeste

No dia do segundo turno das eleições de 2022, a PRF fiscalizou 2 mil ônibus na região Nordeste e 571 no Sudeste. Esse direcionamento de blitzes em rodovias de estados do Nordeste levou a Polícia Federal a investigar se os bloqueios tinham finalidade política, de impedir a circulação de eleitores, sobretudo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Levado à CPI para dar esclarecimentos sobre essas suspeitas, Vasques classificou a acusação como a “maior injustiça da história” e explicou que o elevado número de operações no Nordeste ocorreu devido à “maior infraestrutura” da corporação na região.

“O que se falou muito é que a PRF, no segundo turno da eleição, direcionou a sua fiscalização para o Nordeste brasileiro. Isso não é verdade, porque o Nordeste brasileiro é o local em que nós temos nove estados, nove superintendências. Temos a maior estrutura da PRF no Brasil (…) Nos estados do Nordeste também se encontra hoje lotado, há muito tempo, o maior efetivo da instituição”, afirmou ele.

A declaração foi rebatida pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que apresentou dados repassados pela atual gestão da PRF:

“Não é verdade, dr. Silvinei. O seu maior efetivo está no Sudeste. Eu peguei o quadro aqui, eu mesma somei. O efetivo está maior no Sudeste, não está no Nordeste. Isso não é verdade. O quadro está aqui, eu posso lhe repassar. (…) Portanto, os seus dados não são verdadeiros’, afirmou ela.

Ao fim da sessão, Vasques acrescentou que a atuação da PRF evitou “compra de votos” e que o “trabalhou ocorreu muito bem em todo o Brasil”.

Processos administrativos

Durante o interrogatório da relatora da CPI, Eliziane Gama, o ex-diretor da PRF afirmou não ter conhecimento de “nenhum” processo administrativo que ele respondeu na corporação — mais precisamente, oito sindicâncias abertas contra ele que foram colocadas em sigilo durante o governo Bolsonaro.

“Eu nunca fui notificado de nenhum processo administrativo pela PRF”, disse ele em um primeiro momento. Depois, ao ser interpelado novamente pelo presidente da CPI, Vasques fez uma retificação:

“Os processos, que já estão encerrados, naturalmente eu respondia. No entendimento que eu tinha é que ela [Eliziane] estava falando de novos processos. Ocorre que a relatora não perguntou sobre ‘novos processos’. Ela, então, pediu que Arthur Maia tomasse uma atitude em relação à declaração falsa.”

O presidente da CPI classificou o episódio como um “erro de comunicação” e decidiu não optar pela medida mais drástica, que seria a prisão do depoente por falso testemunho.

“É lamentável a forma que o senhor respondeu. (…) Ele retificou a resposta dele, e eu entenderei essa retificação como tendo ele sanado a sua falha”, afirmou o deputado.

Emprego 

Durante a sessão, Vasques também foi acusado de mentir ao declarar que nunca foi contratado pela empresa Combat Armor. A companhia foi contratada durante a sua gestão para fornecer veículos blindados à corporação em um negócio de mais de R$ 36 milhões. O contrato virou alvo de investigação do Ministério Público Federal.

Vasques admitiu que esteve na empresa apenas para pedir emprego, mas não conseguiu.

“Estou desde o dia que me aposentei procurando emprego. Estive nessa empresa, estive em mais de dez empresas. Estou à procura de emprego, à disposição, ainda não consegui. As que quiseram me dar emprego não atenderam às minhas expectativas, mas assim que eu tiver uma oportunidade, com certeza, vou trabalhar”, afirmou ele.

O deputado Rogério Correia (PT-MG), por sua vez, confrontou o ex-diretor, dizendo ter provas de que ele trabalhou para a empresa. Segundo ele, Vasques chegou a morar por dois meses em Indaiatuba (SP), cidade onde fica a sede da Combat Armor. Ele ainda o perguntou sobre um cartão de visitas em que Vasques era apresentado como “vice-presidente” da companhia.

Vasques negou a informação, dizendo que “não conhece quem fez aquele material”, mas admitiu ter estado em Indaiatuba. “Como em várias cidades da região”, completou.

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