Sexta-feira, 29 de março de 2024

Papa e primeiro-ministro da França debatem casos de pedofilia na Igreja

O papa Francisco recebeu nesta segunda-feira (18) o primeiro-ministro da França, Jean Castex, durante uma audiência privada de meia hora no Vaticano. Na reunião, os dois conversaram sobre o polêmico relatório sobre os abusos sexuais de menores cometidos por décadas na Igreja Católica no território francês.

“É óbvio que conversamos sobre a situação da Igreja na França e sobre o relatório. O discurso do Papa consiste em dizer que a Igreja na França foi corajosa por ter feito seu trabalho. Ele acredita que será possível tirar conclusões do caso. Está satisfeito, porque não houve negação”, disse Castex à imprensa, no final do encontro.

No último dia 5 de outubro, uma comissão independente nomeada pela Igreja Católica divulgou um relatório que diz que pelo menos 216 mil crianças e adolescentes foram vítimas de pedofilia por parte de padres e outros clérigos na França desde 1950.

O documento da Comissão sobre Abusos Sexuais na Igreja (Ciase) mostra ainda que o número de padres pedófilos no país é estimado entre 2,9 mil e 3,2 mil. Além disso, o total de vítimas sobe para 330 mil quando também se leva em contra “os agressores laicos que trabalhavam para instituições católicas”, como sacristãos e professores.

Dias depois, outra polêmica aumentou a tensão entre a Igreja Católica e o governo francês: a defesa do sigilo de confissão por parte dos religiosos, após as autoridades convocarem o presidente da Conferência Episcopal para pedir explicações sobre o caso.

“A Igreja não vai recuar no dogma do sigilo da confissão. Mas devemos, a todo o custo, encontrar formas e meios de conciliar isso com o direito penal e com os direitos das vítimas”, explicou Castex, ressaltando que “o Papa tem plena consciência disso” Segundo o premiê francês, apesar da separação do Estado, a Igreja tem a obrigação de respeitar as leis. “A separação entre a Igreja e o Estado nada tem a ver com a separação entre a Igreja e a lei”, enfatizou.

Escândalo

A visita de Castex, há muito tempo planejada para a celebração do centenário do restabelecimento das relações diplomáticas entre a França e a Santa Sé, acontece no momento em que Paris e o Vaticano foram abalados pelo escândalo dos abusos. Jorge Bergoglio chegou a expressar sua “vergonha” e “dor” depois da publicação do relatório, enquanto que o presidente Emmanuel Macron cobrou “verdade e ressarcimentos” da instituição.

“A Igreja na França carrega hoje as feridas dos abusos cometidos por clérigos e a dor das muitas vítimas feridas por esses atos miseráveis e vergonhosos. Seu compromisso de trabalhar pela dignidade do ser humano e para o bem de toda a sociedade será ainda mais forte e decidida, em plena colaboração com as autoridades civis, no respeito pela natureza, missão e estrutura sacramental da Igreja que lhe são peculiares”, disse o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin.

O cardeal assegurou o compromisso da Igreja com uma luta renovada contra os abusos sexuais cometidos pelo clero entre 1950 e 2020.

Presentes

Durante o encontro entre Francisco e Castex, houve a tradicional troca de presentes. O Papa deu um mosaico representando os viticultores com a inscrição “Que o fruto da videira e o trabalho do homem se tornem uma bebida de salvação para nós” e uma edição especial dos documentos de seu pontificado.

Castex, por sua vez, presenteou o líder da Igreja Católica com uma camisa autografada pelo craque Lionel Messi, argentino que atualmente joga no Paris Saint-German, além da primeira edição ilustrada do livro “O Corcunda de Notre-Dame”, romance de Victor Hugo, de 1836.

Logo depois da audiência, Castex visitou a Capela Sistina e a Basílica de São Pedro junto com o ministro do Interior, Gérald Darmanin, e o chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves Le Drian.

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