Domingo, 06 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 21 de agosto de 2023
Em 30 de junho, os agentes da American Airlines no Aeroporto Regional de Gainesville, na Flórida, cancelaram a passagem de um adolescente da Carolina do Norte depois de perceber que ele tinha usado uma tática de reserva conhecida como “skiplagging”, ou “destino omitido”, proibida pelas aéreas, mas utilizada por alguns passageiros que querem pagar menos.
Caso
O pai, Hunter Parsons, disse que era a primeira vez que o jovem de 17 anos viajava desacompanhado, e que a ocasião e o preço do bilhete o tornaram irresistível — por US$ 150, o jovem voaria de Gainesville a Charlotte, na Carolina do Norte, sem seguir na segunda parte, rumo a Nova York, economizando aproximadamente US$ 300 em relação ao que a família teria gastado comprando a passagem no voo direto para a cidade-escala. De fato, o rapaz não passou nem do balcão de check-in no ponto inicial, onde os funcionários questionaram por que ele haveria de ir para Nova York quando morava na cidade de conexão, Charlotte. Foi forçado a pagar o valor correto.
“Skiplagging”
No “skiplagging”, a pessoa compra passagem de um voo com escala, sendo que ela é seu destino, ou seja, desembarca ali e simplesmente desiste da segunda parte da viagem. Isso porque dessa forma acaba pagando muito menos do que se fosse adquirir um bilhete direto. Já há pelo menos dois sites hoje que ajudam o consumidor a desenterrar essas pechinchas.
Embora não seja ilegal, a prática é terminantemente proibida pelo contrato de transporte das empresas, que punem de forma errática, ainda que severa, quem é pego, chegando a anular as milhas de um passageiro em um caso e até a processar judicialmente outro.
“Meu filho ficou proibido de viajar nos aviões da American por três anos”, conta Parsons.
Segundo os especialistas, a prática vem sendo usada há décadas e identificar o uso impróprio das conexões é complicado, transformando a garantia de obediência à regra em um desafio para as empresas. Veja aqui tudo que há para saber a respeito do segredo mais mal guardado da aviação.
Funcionamento
O preço da passagem aérea é determinado segundo muitos fatores, como preço do combustível, demanda e concorrência, não sendo só reflexo da distância a ser percorrida. Para o passageiro, isso significa que de vez em quando pode ser mais vantajoso comprar um bilhete com escala em uma rota mais concorrida e desembarcar no meio do caminho do que optar pela opção direta.
Por exemplo, uma pessoa em Fort Lauderdale, na Flórida, quer ir a San Francisco. Em uma pesquisa recente, apareceu um voo para Portland, no Oregon, com parada em San Francisco, por US$ 124. A versão direta sai por US$ 220.
Tanto o Skiplagged como o Kiwi facilitam a busca e a compra dessas opções, mas é preciso manter a discrição: não dá para despachar a mala nem usar uma conta com programa de milhagem. Além disso, o passageiro não pode adotar um padrão: se voar para o mesmo destino repetidas vezes, desprezando a segunda parte da viagem, é muito provável que seja pego.
Popularização
A prática vem se tornando popular basicamente por causa do preço da passagem, que disparou nos últimos anos.
Para Mary Cropper, especialista em viagens da Audley Travel, de Boston, a precificação das passagens é uma “tempestade perfeita”: além dos aumentos, as taxas adicionais sobre tudo, de bebidas à impressão do cartão de embarque, tornaram o “skiplagging” mais atraente.
“Não aconselho ninguém a fazer, mas entendo o que leva o passageiro a isso. Por que não economizar 50% do valor de uma passagem que já é tão extorsiva?”, considera.
Aktarer Zaman, fundador e CEO do Skiplagged, frisa que seu site apenas “permite à pessoa tomar a decisão que lhe for mais conveniente, explorando as alternativas atuais”, que ele descreve como “estipulação de preços”.
Riscos
Ao comprar uma passagem, o consumidor assume um contrato de transporte com a empresa, que nada mais é do que uma série de regras que se dispõe a cumprir e que abrange todos os aspectos, desde o procedimento em relação ao overbooking até as exigências de vestimenta e comportamento. Esses termos e condições também normalmente proíbem a prática do destino oculto, listando uma série de possíveis consequências em caso de descumprimento das regras.
A United Airlines, por exemplo, reserva-se o direito de banir permanentemente o passageiro que não completar a viagem, além de revogar seu status e zerar as milhas já adquiridas. A Alaska Airlines ameaça entrar na justiça contra quem violar suas políticas. Nas letrinhas miúdas, a American diz ter o direito a inúmeras ações, tais como o cancelamento do trecho não utilizado, a recusa de permitir o embarque e a cobrança do preço cheio da rota desejada.
“Esse tipo de recurso é um desastre do começo ao fim, pois pode causar grandes dores de cabeça com as malas despachadas e impedir o passageiro com necessidades urgentes de comprar o bilhete”, afirma Curtis Blessing, porta-voz da empresa.