Quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Presidente da Argentina teve um “choque de realidade” e quer explorar relação com Brasil, diz o embaixador brasileiro no país

A troca de farpas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não interessa mais ao presidente da Argentina, Javier Milei. É o que avalia o embaixador do Brasil em Buenos Aires, Julio Bitelli.

Em entrevista, o embaixador afirma que, nos primeiros cem dias do novo governo argentino, a relação transcorreu dentro da normalidade, por causa de uma precaução prévia da diplomacia de buscar estabelecer canais de diálogo com ministros de Milei, para evitar um rompimento.

Segundo o diplomata, Milei recebeu um “choque de realidade” e agora o que se ouve do lado argentino é a intenção de explorar a relação com o Brasil. Ele enxerga uma decisão do governo argentino de não aprofundar as divergências com Lula e entende que os episódios foram dramatizados, o que avalia ser uma tendência nas sociedades dos dois países.

O embaixador brasileiro enumera gestos feitos pelo governo Lula em favor da Argentina nos últimos meses e diz que o setor industrial do país vizinho alertou a Milei que seu futuro dependia do Brasil.

Bitelli entende que as diferenças entre o líder petista do Brasil, um dos principais nomes da esquerda latino-americana, e o libertário Milei, agora um novo rosto da direita e aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, devem sempre ser levadas em conta. Mas observa que as ofensas cessaram – ao menos por enquanto.

Conforme ele, o chefe do Executivo recuou nas três frentes de embate ideológico que abriu durante a campanha eleitoral como forma de ganhar engajamento: com Lula, com a China e com o papa Francisco – Milei viajou e participou de audiência no Vaticano, depois de insultar o pontífice.

“Nas três houve um recuo muito claro e muito pragmático”, afirma o embaixador.

Julio Bitelli salienta que será estratégico para os dois países concluir as negociações para fornecimento do gás de Vaca Muerta ao Brasil, cujas negociações ganharam impulso no ano passado, entre Lula e o ex-presidente e aliado peronista Alberto Fernández.

O diplomata avalia como positiva para as companhias aéreas brasileiras a liberação total dos voos para a Argentina, autorizada por Milei. O pleito era das empresas brasileiras.

O embaixador revela que uma visita da chanceler Diana Mondino está sendo organizada ainda para este mês. Apesar disso, ainda não há sinal de que Lula e Milei possam ter a primeira reunião conjunta de trabalho. Na campanha, o presidente argentino chegou a cogitar não se sentar à mesa com o petista.

Há ao menos três grandes cúpulas multilaterais neste ano que poderiam gerar oportunidades de interação: a reunião do Mercosul, no Paraguai em junho, a reunião do G-7 na Itália – para a qual Lula e Milei foram convidados – e a Cúpula de Líderes do G-20, no Rio, em novembro.

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