Quinta-feira, 25 de abril de 2024

Sandra Bullock quer iniciar um diálogo

O grande lema de “Imperdoável” – filme que entra no catálogo da Netflix no próximo dia 10 – é que ninguém sai ileso de seu próprio passado. Especialmente quando é necessário que a sociedade perdoe os erros cometidos. A reinserção social em países desiguais como Estados Unidos e Brasil, aponta a protagonista e produtora do longa Sandra Bullock, é ainda mais cruel quando se trata de mulheres encarceradas:

“As mulheres não existem no sistema, elas não são vistas. E isso foi uma coisa difícil de aprender de forma mais vívida enquanto fazia o filme. É mais difícil do que para os homens, assim como é na sociedade como um todo. Se você já está na prisão há tempo suficiente e não sabe como a sociedade mudou tecnologicamente, como as coisas são feitas, sabe, como você deveria sobreviver? Você é absolutamente invisível quando volta à sociedade.”

Na fase de laboratório para o filme, Bullock conversou com mulheres presas e outras que deixaram a cadeia após cumprirem suas penas.

“Me deparei com meus próprios privilégios, senti vergonha e tristeza pelos meus pais terem botado comida na nossa mesa, poderem me mandar para a escola e ainda assim eu ter reclamado por não comprar essa calça ou aquele vestido”, relata a atriz, em entrevista por Zoom. “As famílias lutam todos os dias, se sacrificam, fazem a coisa certa, e ninguém se importa. Ninguém faz um filme sobre seu sacrifício, suas decisões de fazer a coisa certa. Nós fazemos filmes sobre pessoas realmente bonitas, com lindas roupas, mas esse é um filme que vale a pena fazer.”

A partir dos relatos de mulheres com passagem pelo sistema carcerário, a atriz montou sua Ruth Slater, uma mulher de passado difícil, que precisa cuidar da irmã pequena após a morte da mãe e o consequente suicídio do pai. Ameaçada de despejo da casa onde cresceu, no subúrbio de Washington, Slater acaba se envolvendo num incidente que vitimiza o xerife da região, e é condenada por homicídio. Vinte anos depois, liberada antecipadamente por bom comportamento, Slater tenta criar uma nova vida, enquanto busca notícias sobre a irmã, adotada por outra família – que, obviamente, não vê com bons olhos este reencontro. Como desgraça pouca é bobagem, ela ainda precisa lidar com a sede de vingança dos filhos (agora adultos) do xerife morto, e com a fama de “assassina de policiais”.

“Todos nós falamos ‘oh, eu não teria feito isso’, mas como afirmar isso se você não esteve nessa situação de luta diária desde que nasceu, desde que chegou ao planeta? A verdade é que ninguém sabe como reagiria a uma situação extrema como essa, a não ser que esteja nela”, reflete a atriz de 57 anos.

‘Não faço filmes pensando em prêmios’

Vencedora do Oscar por “Um sonho possível” (2009) e sem ser indicada desde 2014 (pela ficção científica “Gravidade”), Bullock diz que tanto no ofício de atriz quanto no de produtora não “gosta de fazer filmes pensando em prêmios, pois acaba sendo um fracasso”:

“Gosto de pensar que “Imperdoável” é um filme comercial, apesar de odiar essa palavra, mas algo que um grande grupo de pessoas pode sentar, assistir, ficar fascinado, com medo, emocionado, e fazer perguntas sobre. No final, você pode acabar começando uma conversa significativa sobre o assunto. É uma história universal, com um enredo emocionante. Do início ao fim.”

Diretora estreante em Hollywood

De volta à Netflix após o sucesso do misto de sci-fi e terror “Bird box”, visto por mais de 45 milhões de pessoas, Bullock é acompanhada por um elenco de luxo. Estão em “Imperdoável” nomes como Viola Davis, Vincent D’Onofrio, Jon Bernthal e Linda Emond. A trama é uma adaptação para longa-metragem da série britânica “Unforgiven”, que foi ao ar em 2009. Na direção, uma estreante em Hollywood: a alemã Nora Fingscheidt.

“Tem sido fantástico, pesado, emocionante e assustador, tudo ao mesmo tempo (estrear num projeto de grande orçamento). É uma experiência única de aprendizado e acho que daqui a dez anos ainda vou olhar para trás e aprender algo com essa experiência”, avalia Fingscheidt, conhecida pelo trabalho como diretora e roteirista do drama “Transtorno explosivo”, Urso de Prata no Festival de Berlim em 2019.

A cineasta entrou no projeto em 2019, quando o roteiro de Peter Craig, Hillary Seitz e Courtenay Miles já estava assinado – “Imperdoável” foi anunciado originalmente em 2010, quando a ideia do produtor Graham King era ter Angelina Jolie como protagonista. Para Fingscheidt, o grande desafio na adaptação da TV para o cinema está no desenvolvimento dos personagens:

“Você tem que lidar com muitos tipos diferentes, incluindo uma protagonista que conecta todos eles. Trabalhamos para contar a história através de Ruth enquanto entendíamos quem eram as diferentes pessoas impactadas por ela, sem confundi-las. Para isso, buscamos paletas de cores muito diferentes, diversos estilos de riqueza e pobreza.”

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