Sábado, 25 de janeiro de 2025

Um PIB elevado pode indicar que o País vai bem, mas seu povo não

Inspirado nas ideias do Prêmio Nobel de Economia Amartya Sen, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi criado para ampliar o entendimento sobre bem-estar. Em vez de atrelar a avaliação de um país apenas à dimensão econômica, com ênfase no PIB per capita, o conceito incorpora estatísticas sobre educação e saúde.

O objetivo é ambicioso: medir as condições de os cidadãos conquistarem a capacidade e a oportunidade para ser o que quiserem ser. Os dados sobre o IDH, divulgados anualmente pelas Nações Unidas, fornecem uma oportunidade para políticos no Executivo e no Legislativo refletirem sobre o passado e as prioridades para o futuro.

Os resultados de 2022, último ano do governo Jair Bolsonaro, deveriam motivar um pacto para elevar de forma significativa o desenvolvimento humano no Brasil. A meta deveria ser, no mínimo, atingir o patamar de desenvolvimento classificado como “muito alto”, já alcançado por países como Argentina, Chile e Uruguai. O Brasil, 89º colocado no ranking do IDH, está 20 posições abaixo do necessário para integrar esse grupo. Na América do Sul, ainda continua atrás de Equador e Peru e, pior, perdeu duas posições em relação ao ano anterior.

Não dá para dizer que nada tenha melhorado nas últimas três décadas. Entre 1990 e 2022, a expectativa de vida do brasileiro aumentou 7,4 anos, a expectativa de escolaridade subiu 2,7 anos, e o PIB per capita saltou 44,3%. Mas a média mundial tem subido em ritmo comparável. Portanto o Brasil precisa acelerar e, para isso, estabelecer objetivos claros e ter senso de urgência.

A atitude exigida é a oposta da encontrada no Congresso. Tome-se a educação, fator responsável pela perda de posições do Brasil no IDH. Enquanto os parlamentares demoram a fazer os ajustes necessários para implementar a reforma do ensino médio, aprovada em 2017, elegem para presidir a Comissão de Educação da Câmara um deputado novato que, embora tenha recebido mais de 1 milhão de votos, já deu repetidas provas de que só está interessado em temas capazes de despertar engajamento nas redes sociais e em alimentar a polarização ideológica. Obviamente não está à altura de cargo tão importante para elevar o desenvolvimento humano brasileiro.

O relatório com os resultados do IDH aponta a polarização política como barreira para avanços nos campos doméstico e internacional. Visões de grupos específicos com potencial de causar danos ou ondas de repúdio na sociedade diminuem a chance de sucesso dos objetivos compartilhados pela maioria. O movimento contra o uso de máscaras e das vacinas durante a pandemia são exemplos nítidos do que não deveria acontecer.

Políticas nas áreas de educação e saúde costumam levar décadas para surtir efeitos duradouros. Por isso os dados do IDH devem ser analisados em prazos mais longos. Em 2022, o Brasil interrompeu uma sequência de dois anos de queda do IDH, mas o indicador ainda está abaixo do que era antes da pandemia. Recuperar a trajetória ascendente exige da classe política um pacto para mudar o Brasil de patamar. Os brasileiros merecem ter a capacidade e a oportunidade para ser o que quiserem.

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