Domingo, 19 de maio de 2024

Dia das mães: a maternidade real é permeada pela dor e pela culpa

A romantização da maternidade muitas vezes silencia as experiências de mulheres que, mesmo amando seus filhos, não gostam dos desafios do maternar. Seja por escolha ou não, ser mãe não é, necessariamente, o sonho das que gestam – e nenhuma delas se torna menos relevante por isso. Para quem assume sozinha a missão de educar um filho, o peso da responsabilidade é ainda maior.

As mulheres chefiam 40% das casas no país, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgados na pesquisa “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça”.

Uma dessas casas é a da estudante de pedagogia Alexandra Suzarte, que é mãe solo. Aos 25 anos, a baiana divide com a mãe – também solo – o orçamento doméstico e a criação a pequena Inaê, de 2 anos.

A gravidez aconteceu na vida de Alexandra ainda aos 23, enquanto ela se preparava para começar uma carreira profissional. Em meio a um relacionamento abusivo e turbulento, a jovem enfrentou a maternidade de forma solitária.

“Foi muito difícil, porque eu estava lidando com outras situações pessoais. Tinha acabado de passar por uma situação de violência doméstica, estava entrando na faculdade, entendendo as coisas da vida. Quando comecei a delimitar o que eu queria para mim, eu fiquei grávida. Na gravidez é um ‘boom’ de hormônios, então eu não consegui lidar com todas as emoções ao mesmo tempo”, avaliou Alexandra.

“Eu me senti muito sozinha na gravidez. Tive que me afastar da faculdade, me sentia muito culpada, atrasada na vida. Agora, por exemplo, tenho colegas formando, colegas indo para a ONU, colegas no exterior. Eu sentia que estava perdendo tempo”.

No Brasil da classe média, não restam muitas escolhas às mulheres senão enfrentar as dificuldades. A máxima que aponta que “sua mãe não é guerreira, ela é uma mulher cansada” também se aplica à história de Alexandra.

“O mais difícil, para mim, é em alguns momentos colocar a mão na cabeça, e me perguntar se eu vou conseguir algumas coisas na minha vida, para mim e minha filha. A maternidade permeia pela dor e pela culpa. A gente sente dor desde os primeiros meses de gestação, azia, dor do parto, dor no peito pra amamentar, a dor de preocupação, que talvez seja pior”.

“Outra parte difícil é não me sentir suficiente como mãe. Será que vai dar para pagar escola? Comprar um brinquedo novo? Será que o que eu faço vai ser suficiente?”.

Para Alexandra, observar o crescimento de Inaê também é gratificante, apesar das dificuldades. “Inaê é muito esperta, muito inteligente, então foi e sempre será muito prazeroso ela aprender as coisas. Observar ela se desenvolver é um momento mágico, ela aprende muito rápido”.

Para dar conta da rotina de Inaê, Alexandra conta exclusivamente com a ajuda da mãe, que forma sua rede de apoio. Do acordar ao dormir, as duas se dividem entre tarefas, como levar a pequena para a creche e cuidados relacionados à rotina.

“Tenho um apoio muito grande de minha mãe. Eu precisei me adaptar à rotina de minha filha, desde que eu engravidei, Eu faço tudo em função da minha filha, porque quando ela chegou, mudou nossa rotina”.

“Minha filha vai para a creche das 7h às 17h, então eu divido minha vida assim: de 7h às 13h, eu sou estagiária de Educação. À tarde, eu faço as demandas da faculdade até dar o horário de buscar Inaê. Aí quando eu pego ela, faço todas as atividades que envolve os cuidados com ela, como alimentar, dar banho, fazer as tarefas. E aí a gente se prepara para o dia seguinte”.

Um aspecto que Alexandra considera positiva nesta vivência é que as dores e delícias da maternidade aproximaram os laços com a mãe. Ao aprender a educar uma criança com quem a educou, a relação entre as duas amadureceu.

“Antes a gente tinha alguns embates e eu percebo que cada vez mais nos entendemos. Aqui em casa é uma cadeia de mães solos, então a gente se apoia bastante. Ela viveu um processo parecido com o meu, porque eu também não cresci com meu pai na infância. A gente é super parceira, estamos o tempo inteiro nos apoiando. Não sei o que seria de mim sem minha mãe”, comenta.

Outro aspecto que ela considera positivo na criação da pequena Inaê é a quebra de padrões de gênero.

“Eu acho que o fato de sermos todas mulheres reflete diretamente na criação dela. A demarcação de gênero, do que é ser mulher, fica muito claro. Nos vendo fazer o que fazemos, ela vai entender que ela também pode fazer o que quiser. E isso vai colaborar positivamente para o crescimento da minha filha”.

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