Segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 7 de março de 2024
A companhia aérea Azul tem alguns motivos para fazer uma oferta pela Gol. O principal deles é que quando a Gol sair do Chapter 11 (processo de recuperação judicial nos Estados Unidos), a Azul vai se ver diante de dois concorrentes mais capitalizados e com estrutura de custos bem mais enxuta que a sua. A Latam emergiu assim do seu Chapter 11, em novembro de 2022.
O mercado brasileiro vive uma situação de “triopólio”. Dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostram que as três têm perto de um terço do mercado. Em 2023, a Latam liderou com 38,7% dos passageiros domésticos, a Gol veio em seguida com 33,3% do mercado e a Azul somou 27,5%.
Juntas, Azul e Gol teriam mais de 60% dos passageiros brasileiros. A Azul também poderia ter apelado para a recuperação judicial nos EUA, mas não o fez por uma questão societária: para que não haja uma diluição da participação do fundador David Neeleman. Por conta de uma estrutura de super ações preferenciais, Neeleman controla a empresa com apenas 3% do capital.
Em uma situação financeira igualmente delicada, a Azul está estrategicamente se posicionado como compradora para não ser comprada — o que, novamente, resultaria na perda de controle por Neeleman. E não faltariam pretendentes pela Azul: a American Airlines tem interesse no mercado brasileiro, onde as suas concorrentes já estão posicionadas.
A Delta é acionista da Latam. Enquanto a United Airlines é acionista do Grupo Abra, holding dona da Gol e da colombiana Avianca. A American tem um acordo comercial de exclusividade com a Gol, mas este vence em 2025 e não seria um impedimento.
O grupo IAG, dono de British Airways e Iberia, também tem sido lembrado em conversas de altos executivos do setor como potencial interessado em uma aquisição no Brasil.
Alguns acionistas minoritários da Abra não achariam uma má ideia a Gol ser eventualmente comprada pela Azul. Estão até na torcida: isso faria com que aqueles que foram diluídos quando a Gol foi incorporada pudessem recompor sua participação. Além disso, a coluna apurou que o relacionamento entre a alta cúpula da Gol e da Avianca não é nada bom.
A Azul contratou bancos para eventualmente estruturar uma oferta pela Gol. A empresa fez o mesmo quando a Latam entrou no Chapter 11. Em nota divulgada na quarta-feira (6), a Azul afirmou que ainda não negociou nem aprovou nenhuma transação, mas “está sempre atenta às dinâmicas estratégicas do setor aéreo e a possíveis oportunidades de parcerias, podendo como prática regular contratar consultores para apoiar a empresa nesses esforços”.
O fato de estar em recuperação judicial deixa “barato” o alvo dessa investida. A Gol, por exemplo, viu o preço de mercado cair 60% nas últimas semanas em meio ao pedido de socorro à Justiça. Isso não quer dizer, contudo, que a empresa esteja à venda.
É preciso convencer três grupos que, normalmente, têm desejos completamente diferentes: os acionistas, os credores e as autoridades de defesa da concorrência, o Cade.