Segunda-feira, 23 de junho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 15 de novembro de 2023
A advogada responsável por agendar com o Ministério da Justiça a realização de audiências com a presença da mulher do líder do Comando Vermelho no Amazonas teria recebido pagamentos da facção criminosa. Janira Rocha é ex-deputada estadual pelo PSOL no Rio e foi quem levou Luciane Barbosa Farias, a “dama do tráfico amazonense”, para audiências no ministério, segundo a própria pasta.
Recibos apreendidos pela Polícia Civil amazonense no celular de uma integrante da facção mostram três transferências do “contador” do grupo para a conta de Janira em um único dia, totalizando R$ 23.654. Os pagamentos aconteceram dias antes da primeira reunião de Luciane com o secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Elias Vaz, em março.
O encontro foi solicitado por Janira, segundo o próprio secretário de Dino e os registros na agenda oficial. Em nota assinada por Vaz, o Ministério da Justiça alegou que não tinha como saber de antemão dos pagamentos do Comando Vermelho à ex-deputada.
Os recibos integram relatório sigiloso da Polícia Civil do Amazonas. Os pagamentos foram feitos por Alexsandro B. Fonseca, conhecido como “Brutinho” ou “Brutus”. Segundo a investigação, ele era uma “espécie de contador da facção criminosa, responsável pela contabilidade da ‘caixinha’ (contribuição dos faccionados)”. Seria também o tesoureiro do CV nos municípios de Parintins, Nhamundá e Carauari. Os pagamentos foram feitos nos valores de R$ 3 mil, R$ 5.645 e R$ 15 mil. O nome completo e o CPF de Janira aparecem nos comprovantes.
Coletiva de imprensa
Janira fez uma coletiva de imprensa na terça-feira (14), com Luciane Barbosa Farias para comentar sobre o caso.
“Não confirmo recebimento na minha conta de facção criminosa, eu confirmo que tenho um contrato afirmado por mim e pela Luciane que determinava meus valores. Não confirmo essa falácia das épocas que eu ia em audiência e recebia valores na minha conta, isso é mentira”, afirmou a advogada.
Também durante a coletiva, Luciane alegou que o secretário não sabia quem era seu marido porque “não vinha ao caso”.
“Nunca fui conhecida como a dama do tráfico e sim como Lu Farias, fui recebida, ele não sabia quem era meu esposo afinal isso não vinha ao caso já que eu estava lá representando uma associação. Meu esposo está preso sim, pagando pelo crime dele, mas a minha luta é pelos direitos da população carceraria”, disse.
ONG
Há, ainda, recibos de pagamentos para a ONG Liberdade do Amazonas. A presidente da entidade é Luciane, mulher de Clemilson dos Santos Farias, conhecido como Tio Patinhas, um dos líderes do Comando Vermelho no Estado, que hoje cumpre prisão no município de Tefé (AM). No caso da ONG de Luciane, a contabilidade do CV do Amazonas registra despesas de R$ 22,5 mil para o mês de fevereiro.
“Pelas imagens extraídas do celular, é possível afirmar que a facção CV financia todas as despesas da associação, tais como: pagamentos de aluguel de casa, conta de água, conta de luz, internet, plano de chips, créditos de chip, contador, salários de assistente social, salários de advogadas, salários de funcionários, seguro-conta, material de limpeza e papelaria, gasolina e passagem dos funcionários, conforme demonstrado nas imagens abaixo”, diz trecho do relatório.
A investigação da Polícia Civil do Amazonas começou com a apreensão de um celular roubado durante abordagem da PM amazonense em Maués (AM). Os dados do aparelho mostraram a existência de uma contabilidade detalhada por parte da facção.
Luciane e sua equipe da Liberdade do Amazonas estiveram em duas ocasiões no Ministério da Justiça. Em 19 de março, foram recebidas por Elias Vaz; em 2 de maio, estiveram com o titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), Rafael Velasco.