Quinta-feira, 27 de março de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 7 de fevereiro de 2023
Na próxima sexta-feira (10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reunirá com o presidente Joe Biden em Washington. Antes e depois, o chefe de governo dos Estados Unidos contará com a jovem porta-voz Karine Jean Pierre – primeira mulher negra a ocupar o cargo – para dar sua versão sobre o encontro. A imprensa dos dois países não contará com o mesmo tipo de profissional para comunicar a posição do Brasil.
A ideia de abolir o porta-voz é do antecessor do petista. Jair Bolsonaro demitiu o general Otávio Rêgo Barros, que acabou exonerado da função em agosto de 2020. O então presidente e o gabinete do ódio reagiram com “ciúmes” a Rêgo Barros, que começou a aparecer demais na cena palaciana, sempre num tom ameno e afável num governo de conflitos permanentes. Bolsonaro recorreu a transmissões ao vivo em suas redes sociais, sem perguntas de repórteres e o contraditório.
O governo atual, por sua vez, tem dito não ver utilidade no cargo. “No momento não sentimos a necessidade específica do cargo de porta-voz”, afirmou a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom).
Nos Estados Unidos, berço do cargo de porta-voz, e em outros países que contam com esse personagem no governo, como a Argentina e a China, geralmente são realizadas reuniões diárias com os jornalistas para que apresentem suas demandas de informação a serem respondidas pelo governo.
Silêncio
Sem um porta-voz do presidente, perde-se até mesmo o direito ao registro histórico do silenciamento oficial da Presidência diante de assuntos delicados e para os quais não há resposta fácil. Um exemplo no País é a falta de pronunciamentos de Lula e demais membros do governo sobre o uso do orçamento secreto pelo ministro das Comunicações, Juscelino Filho, para asfaltar a própria fazenda no Maranhão.
A história do cargo de porta-voz no Brasil evidencia que a ausência deste profissional se torna cômoda para o governo, que pode se furtar de responder às perguntas diárias das ruas feitas por intermédio dos jornalistas. Ao eliminar o seu representante, Bolsonaro conseguiu quebrar o acesso da população ao contraditório proporcionado pela dinâmica de perguntas da imprensa.
Registro
Por decisão de Lula, um dos símbolos da Presidência abolido durante o governo Bolsonaro permanecerá fora da cena política. Embora tenha se valido da função nos dois primeiros mandatos, o petista, agora, optou por não ser representado por um porta-voz, mantendo a decisão bolsonarista de romper com uma tradição de mais de 30 anos.
Quando não havia resposta da Presidência aos questionamentos da imprensa, o silêncio constrangedor do porta-voz ficava registrado na história, diferentemente de quando os assessores se calam em conversas privadas e as informações se perdem nos bastidores. Antes de emitir os comunicados, o representante do governo precisava se reunir com chefes de gabinete, ministros e com o próprio presidente, o que elevava a carga de cobrança diante da falta de respostas.
O general Rêgo Barros disse que enxerga o cargo, ainda hoje, como uma ferramenta necessária à estrutura do poder por sua capacidade de proteger a autoridade de “embates desnecessários” com a imprensa.
História
Em momento dramático da República no pós-ditadura, coube ao porta-voz Antônio Britto comunicar o impedimento e depois a morte do presidente eleito Tancredo Neves.
Durante os governos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, três diplomatas se revezaram na função de porta-voz, construindo a ideia de uma figura burocrática e também diplomática em contraposição ao carisma do chefe de Estado.
O modelo da figura de poucas palavras e gentil foi adotado pelos sucessores. Lula nomeou o cientista político André Singer, de perfil paciente e de poucas palavras, assim como Dilma e Michel Temer. O emedebista escolheu o diplomata Alexandre Parola, que tinha desempenhado a função na gestão de FHC.