Quinta-feira, 27 de março de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 7 de fevereiro de 2023
Mergulhado em conflitos internos após as eleições de 2022, o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, passou a ser visado pela articulação política do governo Lula (PT). O partido busca ampliar sua base de apoio no Congresso atraindo parlamentares menos vinculados ao bolsonarismo. Nos cálculos de lideranças do próprio PL, até um quarto dos 110 deputados e senadores da sigla tendem a votar com o Executivo.
A cisão entre aliados de Bolsonaro e aqueles mais ligados ao presidente do partido, Valdemar Costa Neto, tem se reproduzido nas Assembleias Legislativas de estados em que o PL fez as maiores bancadas, como São Paulo. No Rio, o governador reeleito Cláudio Castro (PL) entrou em rota de colisão com a cúpula da sigla em meio a acenos a Lula, com quem trocou afagos, ontem, durante uma visita do presidente à capital fluminense.
Pós-eleição
Passadas as eleições na Câmara e no Senado, o PT avançou em negociações com siglas que deram suporte ao governo Bolsonaro, como PP e Republicanos, na tentativa de assegurar maioria em votações no Congresso. No caso do PL, a aproximação é mais delicada devido à necessidade de equilibrar exigências da base bolsonarista, que ajudou o partido a formar a maior bancada da Câmara e a segunda maior do Senado.
Reservadamente, um cacique do PL avalia que, apesar da importância do capital político de Bolsonaro, o partido estaria prejudicando a si mesmo caso alimente um isolamento extremista. Na tentativa de calibrar esta balança, Valdemar barrou articulações da ala bolsonarista da sigla para lançar uma candidatura contra Arthur Lira (PP-AL), reeleito com votação recorde na Câmara. Em paralelo, Valdemar tem relaxado nos bastidores o discurso, adotado após as eleições, de que o PL faria uma “oposição certeira” a Lula.
“Não sei dizer (se vai ser oposição). Nada decidido.”, comentou o deputado federal Jonga Bacelar (PL-BA).
Norte e Nordeste
Em estados das regiões Norte e Nordeste, parlamentares do PL que se engajaram na campanha de Bolsonaro já preparam uma guinada rumo a Lula. Bacelar foi um dos cinco deputados reeleitos da sigla, todos de estados nordestinos, que votaram, ainda no ano passado, a favor da PEC da Transição para viabilizar a continuidade do Bolsa Família de R$ 600, apesar da orientação contrária do partido.
Outro caso é o de Josimar Maranhãozinho (PL-MA), investigado pela Polícia Federal por fraudes em licitações com verba federal na gestão Bolsonaro, e que acertou neste ano a entrada do PL na base do governador Carlos Brandão (PSB), aliado de Lula. Já o deputado Fernando Rodolfo (PL-PE) escreveu em suas redes sociais, após o segundo turno, que a busca por “alinhamento” com Lula era uma forma de reconhecer a “soberania das urnas” e “pacificar o país”. Entre os novatos na Câmara, o discurso é semelhante.
“Minha concepção é de primeiro avaliar (os projetos) e, se for algo benéfico, votar de acordo com a minha consciência”, afirmou Ícaro de Valmir (PL-SE).
“Trabalhar juntos”
Em suas movimentações para angariar apoios no partido de Bolsonaro, Lula exibiu tom amistoso ontem com o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), durante evento de inauguração de unidades de saúde capitaneado pelo prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD). Sentados lado a lado, Lula e Castro trocaram sorrisos e conversas ao pé do ouvido na cerimônia.
“O que importa é nossa capacidade de trabalhar juntos. O Rio tem conseguido essa maturidade. Não há divisão, há união”, disse Castro.
A relação entre Castro e o presidente estadual do PL, deputado Altineu Côrtes, líder do partido na Câmara, ficou estremecida após ambos apoiarem alas opostas do PL na eleição à presidência da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Após vencer a queda de braço e emplacar seu nome preferido, Castro acenou nos bastidores com a possibilidade de deixar o PL ou de exigir o comando do partido no estado — publicamente, os dois lados negam que o entrevero tenha escalado a este ponto.
Nos outros três estados em que o PL tem maioria legislativa, os rachas entre bolsonaristas e “valdemaristas” tiveram desdobramentos nas assembleias. Em Santa Catarina, o governador Jorginho Mello (PL) articulou a substituição da bolsonarista Ana Campagnolo da Mesa Diretora da Alesc para incluir Maurício Eskludark, membro do “PL raiz”, e atender acordos com outras siglas.
No Espírito Santo, o governador Renato Casagrande (PSB) manobrou e conseguiu que a indicação do PL à Mesa fosse de um nome mais simpático à sua gestão, Danilo Bahiense, em detrimento do bolsonarista Capitão Assumção. Em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas acertou o apoio a André do Prado para presidir a Alesp, frustrando o bolsonarismo, que pretendia lançar Gil Diniz.