Domingo, 28 de abril de 2024

Tombo da Netflix indica que “farra” do streaming pode estar perto do fim

A Netflix mudou a maneira como consumimos conteúdo em vídeo na internet e virou sinônimo de serviço de assinatura por streaming. A companhia ajudou a definir esse mercado, o que significa também que ela funciona como um termômetro para o setor — e o cenário atual não é animador. Depois de anos de otimismo, o tombo recente da Netflix indica que a “farra” do streaming pode estar perto do fim, com corte de custos, fuga de usuários e aumento de preços.

O sinal de alerta foi disparado em 19 de abril, quando a gigante apresentou queda no número de assinantes pela primeira vez em 11 anos: foram 200 mil assinantes a menos nos três primeiros meses do ano. A empresa atribuiu o desempenho à pressão inflacionária mundial, à alta global de juros e à guerra na Ucrânia (já que a companhia encerrou seus serviços na Rússia).

Difícil dizer que se trata de um simples acidente de percurso. A Netflix é a companhia de tecnologia que mais encolheu no mercado de ações em 2022, com retração de 70% no valor de mercado até sexta-feira passada. Além disso, o comando da empresa projeta retração de 2 milhões de assinantes no segundo trimestre deste ano, caindo para cerca de 220 milhões de usuários no mundo.

Para especialistas ouvidos pelo Estadão, os ventos contrários estão soprando contra todo o setor. Uma mudança é óbvia: não estamos mais isolados em casa. “Salas de cinema, restaurantes e teatros estão reabrindo, então as pessoas têm outras possibilidades de entretenimento. O assinante não tem tempo para consumir todo o conteúdo disponível. Torna-se uma lógica de excessos”, observa o professor Márcio Rodrigo, do curso de Cinema da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM-SP).

Para Sabrina Balhes, diretora de medição da Nielsen, além da questão de tempo, existe a competição entre os próprios serviços, que se multiplicaram nos últimos anos. Segundo estudo da Nielsen, o número de programas nas plataformas e televisão americanas saltou de 646 mil títulos para 817 mil no catálogo de 2019 para fevereiro de 2022. “A ‘prateleira do supermercado’ ficou enorme”, diz ela.

A proliferação de serviços resultou no aumento dos custos para atrair e manter assinantes. Segundo uma pesquisa da Ampere Analysis, os serviços de streaming gastaram US$ 50 bilhões em novos conteúdos no ano passado, aumento de 50% em relação a 2019.

Medidas

Para tentar reequilibrar a balança, a Netflix irá cortar custos — segundo o Wall Street Journal, a meta da empresa é enxugar 25% do orçamento. Claro, o reflexo disso será sentido no catálogo da plataforma, que deve tirar do ar produções caras ou com audiências pequenas. É algo que pode se espalhar por todo o setor.

Após a fusão de Discovery e Warner Media, David Zaslav, CEO da nova empresa, avisou que vai cortar custos em US$ 3 bilhões. “Quero competir contra as empresas líderes, não ganhar a guerra dos gastos (por conteúdo)”, disse ele. O resultado imediato foi o cancelamento da CNN+, serviço de streaming do canal americano que ficou no ar por apenas um mês — a economia deve ser de US$ 1 bilhão nos próximos quatro anos.

Produções da TNT e, principalmente, da HBO Max também devem ficar ameaçadas – Game of Thrones, por exemplo, custava cerca de US$ 100 milhões por temporada. Além do cancelamento de produções, o temor é que a qualidade daquilo que fica no ar caia também.

Para completar, os preços não devem parar de aumentar. Segundo cálculo do Estadão, se o brasileiro assinar todos os serviços de streaming, o pacote completo sai por R$ 268 por nove serviços ao mês — em 2019, quando havia menos dessas plataformas, esse valor era de R$ 77,70.

A assinatura da Netflix, que em 2011 custava R$ 14,90, hoje pode sair por até R$ 55,90. No começo do mês, a Amazon aumentou em 50% no valor (de R$ 9,90 para R$ 14,90) da assinatura do Prime, que dá acesso ao serviço de streaming Prime Video, frete grátis no site da empresa, e ao streaming de música Amazon Music.

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