Sábado, 12 de outubro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 21 de outubro de 2023
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva associou pela primeira vez o Hamas aos atos de terrorismo de 7 de outubro, em Israel. Ele já havia condenado o massacre de civis cometido pelo grupo e usado o termo “terrorismo” para se referir aos ataques, mas omitia a autoria do Hamas. No mesmo discurso, Lula afirmou que a reação de Israel é “insana”.
Oficialmente, o governo hesita em classificar o Hamas como terrorista, apesar de cobranças internas de parte de sua base política e da oposição no Congresso. Na semana dos atentados, o Itamaraty foi alvo de críticas em consequência das notas que emitiu sem mencionar o grupo palestino como responsável pelos ataques.
“Fico lembrando que 1.500 crianças já morreram na Faixa de Gaza, 1.500 crianças que não pediram para o Hamas fazer o ato de loucura que fez, de terrorismo, atacando Israel. Mas também não pediram para que Israel reagisse de forma insana e matasse eles, justamente aqueles que não têm nada a ver com a guerra”, afirmou.
Lula disse que o mundo assiste a uma “luta insana entre Hamas e Israel”, que é necessário propor “paz e racionalidade”. “Não é possível que façam uma guerra tendo em conta que as pessoas que estão morrendo são mulheres, idosos, crianças”, disse. “A gente não resolve problema com bala, com foguete, a gente resolve com carinho, afeto, dedicação e solidariedade.”
O Hamas matou ao menos 1,4 mil israelenses, incluindo três com cidadania brasileira, nos ataques terroristas dia 7 de outubro e sequestrou outros 199, segundo dados do governo israelense. Israel tem retaliado desde então com ataques aéreos que já deixaram mais de 2,3 mil palestinos mortos, de acordo com autoridades do Hamas em Gaza, e um cerco ao enclave. O governo israelense também prepara uma incursão terrestre no território palestino.
Resolução na ONU
Em apelo compartilhado nas redes sociais e dirigido às Nações Unidas no dia 11, Lula disse que “crianças jamais poderiam ser feitas de reféns, não importa em que lugar do mundo” e citou o Hamas como autor dos sequestros: “É preciso que o Hamas liberte as crianças israelenses que foram sequestradas de suas famílias. É preciso que Israel cesse o bombardeio para que as crianças palestinas e suas mães deixem a Faixa de Gaza através da fronteira com o Egito”.
Integrantes do governo já haviam associado o Hamas aos atos terroristas e ao sequestro de crianças. Com aval de Lula, a diplomacia brasileira propôs nas Nações Unidas uma minuta de resolução sobre a guerra em que dizia rechaçar e condenar “de forma inequívoca os hediondos ataques terroristas perpetrados pelo Hamas em Israel a partir de 7 de outubro de 2023 e a tomada de reféns”.
O texto acabou vetado pelos Estados Unidos.
Grupo terrorista
No Senado, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, explicou que o País vai manter a tradição de adotar as designações que forem aprovadas no Conselho de Segurança das Nações Unidas. O colegiado não listou o Hamas como grupo terrorista.
E, conforme o chanceler, o Brasil não vai propor a inclusão do Hamas nesta categoria durante seu período como presidente do conselho, que vai até o fim de outubro. O Brasil exerce o mandato temporário de dois anos, e a presidência dos trabalhos é rotativa.
“O Hamas é um partido político também, tem um lado administrativo, e tem duas brigadas, que são o braço armado. Nem a organização como um todo, nem as brigadas foram consideradas organizações terroristas pelo Conselho de Segurança da ONU até agora. Portanto o Brasil segue essa orientação”, disse Mauro Vieira, na quarta-feira, dia 18.
Para o governo, adotar termos mais duros contra o Hamas, além de ter resistência nas Nações Unidas, poderia criar algum tipo de constrangimento, no momento em que o País tenta repatriar um grupo de cerca de 30 brasileiros, isolados e em risco na Faixa de Gaza.