Domingo, 19 de maio de 2024

Saiba por que a China também vê a Otan como ameaça

“Se tocarem nos países da Otan, vamos responder”, disse o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, no início de março. Essa é a filosofia e a razão de ser da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança pela qual 30 países da Europa e da América do Norte se comprometem a responder com suas forças militares conjuntas no caso de um ataque externo a um deles.

Ou seja, a Otan define sua natureza como defensiva. Mas alguns países veem isso como uma ameaça à sua segurança. Apesar de suas fronteiras estarem a milhares de quilômetros dos limites da Otan, a China expressa abertamente e cada vez mais sua desconfiança em relação à organização.

E com a invasão russa da Ucrânia, o atrito entre o gigante asiático e a aliança defensiva liderada pelos EUA se intensificou. Assim como Moscou, Pequim culpou a Otan pelo conflito.

Por sua vez, a Otan denunciou a principal potência asiática por “minar a ordem global” em termos de segurança. O norueguês Jens Stoltenberg, secretário-geral da organização, anunciou em abril que sua estratégia de defesa incluirá a China pela primeira vez, mais especificamente “como sua crescente influência e políticas coercitivas afetam nossa segurança”.

Tensão

Hoje desconfiança, tensão e acusações mútuas marcam as relações entre Pequim e a aliança. Mas nem sempre foi assim.

O historiador Jamie Shea, que ocupou vários cargos de responsabilidade na Otan entre 1988 e 2018, tendo ganhado visibilidade mundial durante a Guerra do Kosovo, de 1999, assegura que a relação entre a aliança e Pequim tem sido de indiferença mútua nas últimas décadas, com trocas periódicas que mal produziram frutos.

“Os chineses mostraram interesse na Otan quando esta entrou no Afeganistão em 2003, mas quando perceberam que não estava lá como uma força de ocupação permanente, mas para fins de estabilização e contraterrorismo, relaxaram e o interesse pela Otan desapareceu”, assegura.

O especialista observa que “até o momento não houve um Conselho Otan-China que permita que ambos os lados se reúnam regularmente e discutam desafios comuns ou percepções mútuas”.

Wang Huiyao, presidente do centro de estudos da China e da Globalização (CGC) e conselheiro do governo chinês, explica que, devido à sua distância geográfica, Pequim “em princípio não deveria ter muitos problemas em comum com a Otan”.

“Mas se a Otan divulgar uma declaração dizendo que a China é uma ameaça potencial, isso preocupa Pequim”, ressalva.

“Otan são os EUA”

Wang argumenta que a estratégia da organização, apesar de seu afastamento e natureza defensiva, está em desacordo com a da China.

O especialista acredita ainda que os confrontos entre Pequim e a aliança atlântica “são reflexo das relações entre os EUA e a China, que se deterioraram nos últimos cinco ou seis anos”.

“E os EUA lideram a Otan, e certamente a Otan reflete amplamente as decisões dos EUA.”

Shea, por sua vez, acredita que a China está se posicionando contra a expansão da Otan por razões puramente estratégicas.

“À medida que a China se alinha com a narrativa russa e a suposta supremacia dos valores autoritários sobre as democracias, deturpar a realidade da Otan se torna uma ferramenta conveniente e fácil para sua política externa e doméstica.”

No entanto, a principal preocupação da China não é a ampliação da aliança militar atlântica para a Europa Oriental.

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